A "caverna central", Zhongdong, situa-se numa das montanhas da província de Guizhou e ganhou tal nome por estar entre as cavernas superior e inferior da montanha. A caverna tem 215 metros de profundidade e 50 metros de altura, onde estão distribuídas habitações construídas de bambu e madeira, e vivem 18 famílias somando cerca de cem pessoas. Essa população é qualificada como os últimos habitantes de cavernas na Ásia.
A existência de uma escola na caverna é raridade. As crianças locais, no entanto, estão acostumadas a tudo na caverna.
Os habitantes do vilarejo de várias gerações pertencem à etnia Miao e vivem da cultura de milho e batata doce nas parcelas de terra por entre as fendas de pedra fora da caverna. A grande maioria dessa população é alfabeta e fala o dialeto dos Miaos.
Em 1984, Yang Zaide, da etnia Miao, e funcionário da Comissão de Educação da vila de Shuitang, começou a trabalhar para criar uma escola primária na caverna. Com certos feitos de caule de milho e alguns bancos, a escola fundou-se e Yang foi o diretor da escola e único professor.
Nas montanhas, em volta da escola-caverna, estão distribuídas cerca de 12 aldeias cujos camponeses que lá vivem começaram a mandar seus filhos a estudar nesta diferente escola. Como a viagem da mais próxima aldeia à escola leva três horas, muitos alunos moram na própria caverna. Mas a falta de professores foi sempre uma dor-de-cabeça.
O professor tem que morar também na caverna, o que é um pré-requisito para o funcionamento normal da escola. Mas, quem se habilitaria?
Yang Zaide: "São alunos Miaos. Contratamos alguns professores de outras etnias. Mas eles não queriam ficar aqui e sentiram grande dificuldade devido a diferença da língua. Pensei na minha filha, formada em uma escola pedagógica e candidata apropriada uma vez que somos Miaos".
Yang Zhengxiu: "No início, não queria ficar aqui. Mas achava que as crianças eram dignas de compaixão. Meu pai dedicou-se toda vida aos trabalhos educacionais e eu, desde criança, queria ser professora".
Passaram-se 22 anos desde a criação da escola. E, hoje, a escola admite alunos procedentes de mais de dez aldeias periféricas, tendo oito professores e 210 alunos. O velho Yang se aposentou, mas a filha não frustrou a esperança do pai, tornando-se a docente mais antiga da escola.
Yang Zhengxiu chegou à escola em 2002. Na primeira noite, não conseguiu conciliar o sono e sentia grande solidão. Pensava estar preparada para a situação, inclusive pensava na possibilidade de não ter eletricidade e ter que buscar água ao sopé da montanha. Mas, o maior desafio para a professora não era as condições difíceis do ambiente de vida e trabalho, mas sim, o mal-entendido com a população nos conceitos sobre a vida.
Em 1997, a professora Yang graduou-se na Escola Pedagógica da cidade de Anshun, da província de Guizhou, e tornou-se professora da Escola Primária de Shuitang, a melhor na vila. Morava em casa, era alvo dos cuidados da família e atraia olhares de admiração quando ia ao trabalho, de bicicleta, todos os dias. Porém, não estava satisfeita com a vida.
"Sentia-me inferior desde criança. Pensava sempre em porquê nasci nesta terra, e não como outras pessoas que levam boa vida. Queria sair de casa para ver o mundo lá fora", contou Yang Zhengxiu. E foi.
Ignorando a oposição dos amigos, saiu de casa rumo a Quanzhou, cidade famosa na província de Fujian. Mas, depois de algum tempo, começou a duvidar da sua escolha e a repensar a própria vida.
Yang Zhengxiu: "Ao meu ver, as cidades não possuem grandes diferenças quanto a minha terra, situam-se na planície e não são montanhosas como onde moro. Se a gente quiser, também poderá fazer algo. Pensando assim, voltei".
Respirando o ar da terra natal e caminhando pela estrada conhecida, Yang planejou novamente a sua vida. Abandonou o emprego na vila e escolheu a escola-caverna no recôndito das montanhas para trabalhar.
"Sou da etnia Miao. Se não dar aulas às crianças Miaos, quem vai ensiná-las?", questionou Yang Zhengxiu.
A vida na caverna é simples e Yang experimenta a alegria da simplicidade através dos contatos com seus alunos, que falam, para ela, suas confidências, apesar de a maioria não ser muito comunicativa.
Nos primeiros dois anos da sua chegada à escola, não havia eletricidade nem água potável na caverna. Yang Zhengxiu aprendeu com os habitantes locais como viver: criar porcos, cultivar legumes, recolher lenhas, ajudar os alunos com trabalhos de casa a candeeiro de querosene. E trouxe à população da caverna novos conhecimentos e conceito de vida.
Em fins de 2004, a caverna começou a ter eletricidade e a população começou a acessar a televisão e o mundo exterior. A pedido dos habitantes da caverna, foram abertos cursos de alfabetização.
Yang Zhengxiu: "Eles assistiram aos programas televisivos e exigiram que houvesse aulas para eles. E me disseram: 'não sabemos ler nem escrever, e não entendemos mandarim. A professora Yang poderia nos dar aulas?' Dessa forma, abrimos os cursos de alfabetização para dar aulas a eles à noite".
A dança com banquinhos é uma dança folclórica da etnia Miao. Isoladas na caverna, as crianças não sabem e, até mesmo, têm vergonha de dançar.
Yang Zhengxiu: "No início, quando ensinei às crianças a dançar, os alunos, especialmente as meninas, tinham vergonha. Eu disse a elas: 'eu era uma menina e nasci de outra. Não é preciso ter vergonha. Somos iguais aos homens.' Pouco a pouco, as alunas tornaram-se cada dia mais ativas e animadas com a dança".
Nos últimos anos, com a ajuda e atenção do governo e de toda a sociedade, o ambiente de vida na caverna e as condições de estudos dos alunos vem melhorando gradativamente.
Yang Zhengxiu: "As condições da escola são muito melhores que antes. Muitas pessoas nos ajudam. O que temos hoje é devido a colaboração de muitas pessoas, por isso, jamais vou deixar a escola-caverna".
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