Na montanha Wuyang, situada no Zhou das Etnias Buyi e Miao de Qiannan, província de Guizhou, serpenteia uma estrada de apenas seis quilômetros, mas um autóvel precisa de cerca de uma hora para percorrer todo o caminho. Afinal, a estrada foi construída na montanha e possui muitas curvas de quase 180 graus, cuja largura média é de três a cinco metros. Vista de longe, a estrada parece estar embutida na montanha íngreme. Mas, alguém consegue imaginar que ela tenha sido feita totalmente a base de picaretas?
Num extremo da estrada se situa uma pequena aldeia ? a aldeia de Wuxing. Só por esta estrada é que automóveis têm acesso à aldeia. Ela foi construída por um idoso Buyi, uma das 55 minorias étnicas da China, durante cerca de 15 anos. Quando o primeiro autóvel chegou à aldeia, em julho de 2005, desde a vila de Taiyang, não muito longe de Wuxing, um idoso chamado Luo Jingfu, de 61 anos, sentiu-se muito emocionado e disse ter esperado esse dia por quase 15 anos.
"A estrada está pronta e um automóvel chegou a nossa aldeia. Estou muito emocionado. Chorei, sim. Foram cerca de dez anos muito difíceis, mas estou muito contente. Não quero queixar-me de ninguém. É bom que a estrada entre em funcionamento. Teremos uma vida melhor".
Luo Jingfu é um habitante comum da aldeia de Wuxing, que possui cerca de 30 famílias Buyi. Ele tinha trabalhado toda sua vida no campo e devia levar uma vida tranquila na velhice. Porém, surgiu-lhe uma idéia pela qual ele trabalhou arduamente durante 15 anos.
"Sai poucas vezes da aldeia. Mas sentia sempre vergonha ao voltar porque nossa aldeia é a mais pobre e não tínhamos nem mesmo uma estrada boa. Já preparei materiais para a construção de casa, como, por exemplo, tijolos e cal. Mas pensava e repensava se meus filhos, depois de sairem de casa, viriam até lá morar ao retornar. Se construir uma estrada para todos, esta deve ser uma ótima idéia".
Então tal notícia causou um grande impacto na aldeia: "Luo Jingfu quer construir uma estrada na montanha Wuyang". Situada no recôndido das montanhas, ela se comunicava com o exterior através de uma vereda e nenhum automóvel jamais havia chegado até ali devido ao difícil acesso.
"Antes, as crianças iam à escola, os aldeãos transportavam coisas aqui ou vendiam cereais, e todos iam a pé. Uma família deve vender toneladas de cereais anualmente. E todos os cereais eram transportados nos ombros. Para chegar ao outro lado da montanha, era preciso descansar várias vezes e, um só dia, rendia uma única ida e volta".
"Ao comprar adubos químicos ou vender gados domésticos, tudo ia ou vinha via balancim de bambu. A vida era difícil. Não tínhamos outra maneira para transportar os produtos para fora da montanha senão carregá-los nos ombros", disse o chefe da aldeia.
Numa manhã de abril de 1991, Luo Jingfu, então com 45 anos, dirigiu-se sozinho à montanha levando uma picareta. Naquele momento, ele próprio não pensava que o trabalho levasse quase 15 anos, desde a primeira picaretada, e nenhum de seus conterrâneos acreditava que Luo conseguisse abrir um caminho com seus próprios esforços. Porém, Luo, ignorando as dúvidas e ironias dos aldeãos, começou o seu trabalho como se cumprisse uma missão.
"No meu tempo na escola, o professor sempre nos ensinava que não devíamos fugir das dificuldades, que devíamos aprender a partir daqueles que estão mais avançados, que devíamos fazer contribuições à sociedade, mesma as mais aparentemente insignificantes. Sem uma estrada, nossa aldeia ficará sempre pobre", disse Luo Jingfu.
Um ano depois, Luo Jingfu conscientizou-se da tamanha arduosidade de sua escolha.
"Mas, naquele tempo, foi o meu ideal e não estava interessado nas idéias de outras pessoas. A meu entender, se cada pessoa contribuir um pouquinho, águas de chuvisco poderão confluir em um rio grande".
O trabalho de Luo comoveu seus conterrâneos e cada vez mais pessoas participaram da construção da rodovia, o que fez Luo ver a esperança. Quando Luo passou a acreditar que a primeira estrada da aldeia ao exterior se tornaria uma realidade num futuro próximo, encontrou a primeira revez: com a extensão da linha de construção, se aumentava a dificuldade e o perigo por falta de pessoal técnico e equipamentos. Por isso, muitos aldeãos se retiraram da obra.
"Senti-me triste. Mas não queria, nem quero falar mal de ninguém. Naquele momento só pensava em construir a rua e morrer tranquilo com uma estrada legada para as gerações posteriores".
Enquanto os aldeãos abandonavam as obras, Luo continuava a ir à montanha todos os dias, e lá ficava dias inteiros observando e pensando. De repente, Luo, parecendo ter recebido algum sinal, voltou a construir a estrada, sozinho.
Mas, Luo, já com 50 anos, devido à idade, começou a sentir dificuldade físicas, e achou que não conseguiria ver seu ideal realizado. Sendo assim, ele pensou em contratar mãos de obra. Mas Lanhua, sua esposa, comentou: "Não tínhamos dinheiro para contratar mãos de obra. Mas ele me disse: ´Não se preocupe. Tenho dinheiro´. Perguntei-lhe onde buscaria dinheiro. E ele disse: ´Fique descansada´ ".
"Quando minha mãe saiu, meu pai vendeu porcos e boi da nossa família. Com isso, contratou mãos de obra", revelou Luo Hongxing, caçula do casal. Devido a isso, pela primeira vez houve conflito entre Luo e sua família, que não aprovou seu comportamento.
"Ele só se dedicava à estrada e não cuidava dos assuntos em casa. Mas ele justificava, dizia que ´os porcos e o boi que criamos são para vender. Se não vendemos, não há utilidade", contou Lanhua.
Para os trabalhos no campo, Lanhua pediu emprestado o boi do seu irmão. Até que um dia, quando voltou pra casa, descobriu que o boi havia desaparecido.
"Além de ter vendido os nossos, ele vendeu o boi da família do meu irmão para pagar os trabalhadores", disse Lanhua. Depois do episódio, brigas voltaram à família dos Luos. Lanhua voltou para a casa dos pais e o caçula começou a mostrar seu descontentamento com o pai.
Luo Hongxing disse: "Perguntei a meu pai onde foi minha mãe. Ele disse que ela havia ido a casa de meus avós. Queria buscá-la, mas meu pai disse: ´não é preciso. Deixe-a ir´".
"Não podia explicar a ela no momento. Estava determinado a concluir a obra. Nunca adotei ´democracia´ em minha casa sobre a questão da estrada. Caso contrário, jamais teríamos a estrada", afirmou Luo Jingfu.
Apesar das dificuldades, Luo insistia nas obras. No período mais crítico, ele até mesmo retirou as telas da casa para pagar os trabalhadores.
"Quando eu tinha oito anos, não havia nem mesmo uma trilha na montanha quando eu ia a escola. Foi meu pai que abriu um caminho às facadas para que eu pudesse assistir minhas aulas na vila de Taiyang", disse Luo.
Em abril de 2005, a rodovia se estendeu finalmente para a vila de Taiyang. Luo chamou imediatamente um automóvel para testar a rua. Quando o auto chegou lentamente com todos os cuidados, à aldeia, o povo vibrou de alegria. Apesar da existência de muitos problemas técnicos, a estrada trouxe uma nova esperança sem precedentes aos aldeãos. Os trabalhos daí para diante corriam de vento em popa com os aldeãos tomando a iniciativa de participar das obras finais. E, com a chegada de automóveis, a polêmica e desconfiança inverteram-se em admiração e respeito a Luo, que virou uma espécie de herói do vilarejo.
Um dia de março de 2006, Luo Jingfu foi à vila de Taiyang. Concluídas as obras de ampliação da estrada com os esforços de toda a aldeia durante um ano, Luo decidiu levar à sua terra dessa vez algo maior e mais pesado: um caminhão.
Apesar de algumas dificuldades, o grande veículo chegou finalmente à aldeia. "Depois de tantos anos de esforços, a estrada foi construída. Enquando vivo, continuarei reparando a estrada para que ela nos traga benefícios sempre", disse, emocionado, Luo Jingfu.
|