Com exceção do inglês, francês, russo e japonês, todas as outras línguas são chamadas na China de "minoritárias", entre as quais se inclui o português. O idioma não atraía interesse até o início da década de 1960, quando foi fundado na China o primeiro curso universitário de português pela Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing. Na ocasião, os alunos foram conclamados a estudar português para atender às "necessidades do país". A maioria deles foi destacada para trabalhar no Ministério dos Assuntos Exteriores da China. De acordo com o Gu Fengxiang, um dos alunos dessa primeira turma, o país deu início à formação de tradutores de língua portuguesa por não encontrar nenhum intérprete quando da visita à China do ex-presidente brasileiro, João Goulart, em 1960.
Talvez nunca tenha passado pela cabeça dos graduados em língua portuguesa que um dia o idioma seria tão concorrido e solicitado como atualmente. Nos últimos anos, a nota de corte para passar no vestibular de português da Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing chegou a níveis semelhantes ao das universidades tops do país, como a Universidade de Beijing, o sonho de todo estudante chinês. O português é hoje o idioma mais procurado entre os chamados "minoritários". A professora Zhao Hongling, da Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing, atribui o fenômeno à excessiva procura.
Enquanto muitos recém-formados sofrem para encontrar o primeiro emprego, os profissionais formados em português não têm do que reclamar, mesmo em tempos de crise financeira. A entrada no curso de português por si só já uma garantia de trabalho e um salário razoável. Os destinos dos estudantes de português são ministérios, imprensa, instituições financeiras e companhias nacionais com negócios em países lusófonos.
Como a média da população pensa de forma pragmática, o português caiu no gosto de milhares de jovens chineses que almejam um futuro tranquilo. Elisa Zheng, aluna da Universidade de Estudos Estrangeiros de Guangdong, acredita que o português lhe abrirá muitas portas.
Já a estudante Gabriela Wang aposta suas fichas no setor de turismo.
O crescente número de falantes de português contribui com a intensificação dos intercâmbios e um melhor entendimento dos chineses sobre os países de língua portuguesa. O conhecimento de boa parte deles já vai além dos estereótipos futebol, samba e pastel de nata. A estudante Gabriela, que adora viajar, compara a vida dos chineses a dos brasileiros.
Já Eva Li, colega de turma da Gabriela, está de olho no setor agrícola brasileiro.
Não são raros os casos de pessoas que estudam uma coisa e trabalham em outra completamente diferente. Com aqueles que se especializam em português isso é raro. Além da realização profissional, eles dão pequenas contribuições à amizade entre o povo chinês e os falantes de português.