José Saramago nasceu em 1922. Em 1947, lançou seu primeiro romance, "Viúva". No início da década de 70 do século passado, começou a trabalhar na área de imprensa. Entre abril e novembro de 1975, foi diretor-adjunto do "Diário de Notícias", maior jornal de Portugal. A obra "Memorial do Convento", criada em 1982, deu grande fama ao escritor. Ele recebeu o Nobel de Literatura de 1998, sendo o primeiro e único ganhador em língua portuguesa desse prêmio. Faleceu no dia 18 de junho de 2010, em casa, na ilha de Lanzarote, na Espanha, aos 87 anos de idade.
As obras de Saramago foram traduzidas em 25 línguas estrangeiras. No final da década de 90, as versões chinesas de "Memorial do Convento" e "Ensaio sobre a Cegueira" foram publicadas oficialmente na China. Por isso, Zhu Fa, um professor em Shanghai, conheceu as obras de Saramago e amou-as.
"Um amigo me mandou uma mensagem de celular sobre o falecimento de Saramago. Logo depois, eu confirmei essa notícia no site e mandei essa notícia no site Douban. Muitos amigos discutiram sobre essa notícia no grupo online de Saramago", disse ele.
O site Douban é um site chinês, como o Facebook. Existe um grupo dedicado a Saramago nesse site, no qual as pessoas que gostam de Saramago conversam online sobre o escritor e suas obras. Zhu Fa é um dos membros.
Fan Weixin, de 70 anos, traduziu "O Memorial do Convento" e "Ensaio sobre a Cegueira" para os leitores chineses. "A primeira impressão que tive sobre ele é que ele não carece de humor, mas é introvertido", disse Fan Weixin, que já traduziu também obras de Jorge Amado, Erico Veríssimo, Eça de Queiroz, Miguel Torga, e Manuel da Fonseca. Em 1997, a versão chinesa do Memorial do Convento foi publicada. José Saramago veio especialmente a Beijing para participar do lançamento do livro. Na ocasião, ele perguntou a Fan Weixin sobre sua impressão na tradução dessa obra.
"É um galho. Ao encontrar as dificuldades na tradução, eu dava voltas e voltas como um tigre na jaula, queixando-me do escritor que criou tantos enigmas difíceis de desvendar", respondeu Fan. Segundo ele, foi o escritor brasileiro Jorge Amado quem lhe falou de José Saramago pela primeira vez, em 1987.
No ano seguinte, Fan Weixin chegou a Portugal levando uma carta de apresentação de Jorge Amado com os nomes, endereços e telefones de dez críticos e escritores portugueses. Saramago era um deles.
Jantaram juntos na casa do escritor em 1988, quando Saramago lhe perguntou se queria traduzir o "Memorial do Convento" para o chinês, mas Fan Weixin respondeu: "Ainda não. Não quero estragar a sua obra".
"Depois disso, hesitei nada menos que seis anos. Durante esse período, eu li e reli várias vezes o Memorial do Convento. Foi a partir de 1994 que comecei a tomar a decisão e entrar em ação."
Não estragou. Pelo contrário: a tradução chinesa daquele romance de Saramago, publicada em 1997, seria recompensada com o Prêmio Lu Xun "Arco Íris", atribuído pela Associação Chinesa de Escritores, o maior prêmio de tradução literária da China.
Em 2006, estreou em Beijing a peça Cidade de Cegueira, adaptação de Ensaio sobre a Cegueira, oferecendo mais uma oportunidade para os chineses de conhecer melhor esse escritor português.
Wang Xiaoying, diretora da peça, disse, "SARS danificava toda a cidade de Beijing em 2003. Quando li no jornal sobre o ' Ensaio sobre a Cegueira' de Saramago. Fiquei bem surpresa. Saramago descreve muito bem o vício do ser humano, assim como a luta contra o vício quando as pessoas ficam em condições extremas. Desde então, eu decidi adaptar o romance à peça."
A estréia da peça surtiu um efeito bem forte e uma grande repercussão. Os espetadores e a mídia prestaram muita atenção à peça. Para eles, a obra de Saramago apresentava observações e análises bem sérias.
Hu Zhencai, vice-presidente da Sociedade Chinesa dos Estudos da Literatura da Espanha, Portugal e da América Latina, disse ter um encontro com Saramago quando o escritor veio a Beijing para participar da cerimônia de lançamento da versão chinesa do Memorial do Convento. "Era uma pessoa amável e acessível. Na conferência, ele se deu muito bem com a gente. Tinha um pensamento franco e honrado para divulgar a cultura e queria mostrar suas obras para os leitores chineses."
Hu Xudong, vice-diretor do Centro de Cultura Brasileira e professor do Instituto de Literatura Mundial da Universidade de Beijing, considerou: "Saramago foi um mágico de materiais históricos. Por exemplo, quando você lê 'Memorial do Convento', você pode encontrar os materiais históricos, até as detalhes da construção desse convento. No romance, a realidade histórica é ligado nas teias da ficção. Os leitores ficam em um espaço histórico profundo, mas sob uma narração histórica. Sentimo-nos que o romance não é apenas uma narração. Ele tem a capacidade de arrumar , juntar e até de criar uma cultura."