Natural do distrito de Sanjiang, da região autônoma da etnia Zhuang de Guangxi, no sul da China, Zhang Hai é um mestre do antigo instrumento musical de sopro Sheng, ou seja, Lusheng. Ele não apenas toca bem o instrumento, mas também aprendeu a confeccioná-lo. Ele percorreu 15 vilas e aldeias de Sanjiang para difundir a técnica entre uma população de 200 mil pessoas da etnia Tong. 

O Sheng tem uma caixa de ressonância feita de cabaça, orifícios de sopro de madeira e mais de dez tubos de bambu incrustados na caixa de ressonância em forma de casco de cavalo. Com uma história de dois mil anos, o Sheng é muito popular entre grupos étnicos do sul, principalmente as etnias Miao e Tong.

Zhang Hai, de 54 anos, nasceu na aldeia Dutong, conhecida como "terra das canções". O pai dele era um famoso cantor local e também era um mestre de Lusheng. Infelizmente, ele faleceu quando Zhang Hai tinha apenas um ano de idade. Legou, no entanto, seu talento musical ao filho. Ao ouvir pela primeira vez o som produzido pelo Sheng, Zhang Hai se apaixonou pelo instrumento. Ele nos conta:

"Certa vez fiquei doente e escutei em casa o som de uma música interpretada em Lusheng vindo de fora. Fiquei encantado com a bela melodia".

A mãe de Zhang Hai sustenta a família sozinha cultivando a terra e Zhang teve que abandonar os estudos aos 9 anos. Ele pastoreava e praticava o Lusheng, a que sua mãe se opôs no início. Para ela, a prática não tinha futuro. Zhang Hai passou a tocar Lusheng escondido. Aos 14 anos, os aldeões levaram Zhang Hai para trabalhar na obra de um reservatório e o menino foi designado para cozinhar para os trabalhadores. Ele aproveitou o tempo livre para tocar Lusheng. O mestre recorda como foi a época:

"Quase todos os trabalhadores ouviam e queriam saber quem tocava tão bem. Aí, eles me recomendaram que ingressasse em um grupo artístico. Nós nos apresentamos em Guizhou e Hunan. Eu era o mais jovem de toda a turma".

O talento e a paixão por este antigo instrumento permitiram a Zhang Hai avançar rapidamente em sua habilidade. Nos anos 70 do século passado, quando a cultura folclórica corria risco de extinção, era dificílimo encontrar notações musicais para Lusheng. Zhang Hai anotou as melodias de canções da etnia Han transmitidas por rádio e as adaptou para obras que se encaixavam na interpretação em Lusheng.

Os jovens da etnia Tong costumam expressar seus sentimentos tocando o Lusheng. À noite, meninos e meninas sentam-se perto uns dos outros tocando Lusheng. Zhang Hai encontrou assim seu amor.

Zhang Hai ficou cada dia mais famoso na sua terra graças à sua dedicação ao antigo instrumento musical chinês. Em 1985, ingressou no grupo artístico da etnia Tong de Sanjiang e decidiu que sua carreira seria com o Lusheng. A partir daí, ele começou a se concentrar na composição.

"Produzi muitas músicas sobre a etnia Tong, porque cresci no meio dessa população e conheço todos os detalhes da sua vida".

Nos anos 80 do século passado, Zhang começou a tentar fabricar e aperfeiçoar o Lusheng, pois o timbre que o tradicional instrumento musical produz é fraco. Ele aumentou o número de tubos de bambu para reforçar o som e testar timbres.

O mestre chinês admite que a civilização moderna trouxe impactos fortes às tradições da região. Ele percorreu quinze aldeias e vilas da sua terra para divulgar a técnica de tocar Lusheng à população local.

Zhang Hai é sempre recebido pelos aldeões com muito respeito. Ele leva também seus alunos para fazer apresentações. Entre eles, sua filha e seu sobrinho.