Domingo passado, comemorou-se aqui na China a Festa do Barco-Dragão. A data tem vários nomes, além da Festa do Barco-Dragão, por exemplo, Festa Duan Wu, Festa da Pamonha. Ela relaciona-se a um nome muito conhecido pelo povo chinês, Qu Yuan. Como costume para comemorar Qu Yuan, os chineses, independentemente de onde estejam, costumam comer pamonhas e realizar as corridas de barcos-dragão.
Qu Yuan foi um grande patriota e poeta na história do país. Com seu profundo amor pela pátria e pelo povo e seus belos poemas, Qu Yuan exerceu e continua exercendo influência positiva na literatura e no espiríto do povo. Neste e no próximo programa, vou falar sobre as relações da festa com o poeta, sua biografia e suas obras mais importantes e como transcorre esta festividade na terra natal do grande poeta.
Com pouco mais de 20 anos, o jovem Qu Yuan deixou sua terra natal. Atravessando as Três Gargantas, ele apreciou as magníficas paisagens às margens do Yangtze e, disposto a servir à pátria, chegou a Ying Du, capital do Reino Chu, hoje a sede do distrito de Jiang Ling, província de Hubei. Com seus ricos conhecimentos, assim que chegou, Qu Yuan começou a trabalhar junto do Rei, como vice-primeiro-ministro do Reino.
Na Corte, Qu Yuan discutia com o Rei os assuntos de importância nacional, preparava leis e decretos, recebia autoridades e visitantes, projetando-se por suas façanhas políticas.
Como vice-primeiro-ministro, Qu Yuan não se deixou envolver pelo luxo da vida palaciana. Ele pronunciava-se pela adoção de reformas políticas, por um regime baseado em leis e por uma aliança com o Reino Qi, a fim de resistir às agressões do vizinho, Reino qin. Tinha em mente fazer prosperar seu país e unificar os estados vizinhos em torno do Reino Chu.
Regido por um soberano tolo, o Reino Chu passava por uma crise. Acatando intrigas contra Qu Yuan, o Rei não dava importância às suas propostas. Em consequência, o Reino Chu passou a enfrentar dificuldades internas e revezes externos, sofrendo constantes derrotas em prolongada guerra contra o Reino Qin.
Devido às perseguições de que era alvo por parte da aristocracia decadente, Qu Yuan, homem firme e puro como a flor de lotus, foi várias vezes exilado.
Não podendo mais servir seu país, Qu Yuan exprimia sua dor e sua revolta em poemas imortalizados. No célebre "A dor da separação", ele exprime seu amor à pátria, descrevendo as estranhas e belas coisas do mundo e as lendas. Desiludido com a realidade, ele alimentava esperanças na fantasia. Ele canta na poesia:
"Como um dragão branco montado no carro de vento,
Deixo este mundo e voo para o céu.
O caminho é longo, longo,
Subo e desço, em busca da verdade."
Durante longo isolamento em sua própria terra, Qu Yuan provou toda sorte de sofrimentos. Porém, a imensa e bela natureza despertava sua inspiração poética. No inesquecível "Questionando o céu", ele formula mais de 170 interrogações pondo em dúvida fenômenos naturais e lendas e buscando a verdadeira fonte de tudo, expressando sua indignação, por exemplo, Qu Yuan perguntou:
Onde o céu e a terra se ligam?
Como se dividem as 12 regiões?
Onde se põem o Sol e a Lua?
Por que os astros estão dispostos em tanta ordem?
Por que aparece a escuridão quando a porta do céu se fecha?
Por que surge a luz quando a porta do céu se abre?
Quando no oriente não há claridade?
Onde se esconde o Sol?
...
No ano 278 antes de Cristo, a capital do Reino Chu foi ocupada. Na Festa do Barco-Dragão do ano seguinte, ao saber do fato, Qu Yuan, não suportou a tristeza da subjugação, atirou-se nas águas do rio e desapareceu para sempre. Esse dia foi o 5º dia do 5º mês do calendário lunar, ou Festa Duan Wu.
Anualmente, na Festa Duan Wu, o povo comemora a data com cerimônias e regatas. Neste dia têm lugar as corridas dos barcos-dragão e comem-se as pamonhas feitas de arroz glutinoso embrulhado em folhas de bananeiras. Segundo os registros históricos, o povo, sabendo que Qu Yuan morrera afogado e receando que os peixes comessem o seu cadáver, percorreu o rio Mi Luo em barcos, enquanto lançava à água o arroz, para que os peixes saciassem assim a sua fome e não comessem o corpo de Qu Yuan.
Em chinês, para descrever a profunda saudade da pátria ou da terra natal, os intelectuais empregam o provérbio: "a raposa morre de cabeça voltada para a sua colina". O provérbio tem origem num verso do grande poeta Qu Yuan.
No abandono, Qu Yuan, atormentado, saudoso de sua terra natal, então escreveu os seguintes versos:
Os pássaros voam, mas voltam sempre ao ninho.
A raposa morre, mas morre sempre com a cabeça voltada para a sua colina.
Após escrever estes versos, suicidou-se atirando-se ao rio Mi Luo.
Hoje em dia, pelas façanhas de que foi capaz, pelos sofrimentos que passou, QuYuan é símbolo do espírito e da cultura da nação chinesa. Come-se pamonha e lembra-se do grande poeta Qu Yuan. Seu nome se perpetuará no coração da gente, geração após geração.
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