Para quem visita a cidade de Beijing, atrações como o Palácio Imperial, a Grande Muralha e o Palácio de Verão são indispensáveis, pois sua glória e grandeza refletem parte da cultura milenar chinesa. No entanto, há um outro lugar nesta Capital que você não deve perder. São os Hutongs, ou os becos tradicionais chineses, espalhados pelo bairro antigo de Beijing.
No século XIII, os mongóis fundaram a Dinastia Yuan e escolheram Beijing como Capital. De origem mongol, palavra "Hutong", que designa um conjunto de becos e ruas, foi trazido assim ao cotidiano dos Hans.
Estreitos e longos, os Hutongs de Beijing têm nos seus dois lados casas de paredes e telhados cinza, com portas de madeiras, pintadas em vermelho. Para a estudante francesa, Florel Prevot, é justamente nesses becos que se pode curtir o charme de Beijing. Florel é mestranda em arquitetura em Paris. Visitou a China por várias vezes e em junho do ano passado, alugou um apartamento no Bairro Dongcheng e começou sua pesquisa para a tese.

"Estou muito interessada na proteção do patrimônio cultural, tema bem destacado na China. A China é provavelmente o país que sofre a mais intensa mudança no mundo. Obras arquitetônicas erguidas há décadas podem estar sendo reformadas ou destruídas. As pessoas estão cientes da necessidade de salvar essas memórias. Mas é impossível preservar todas as construções antigas, por isso, queria registrar a história através de fotos e pinturas. Além do mais, admiro muito a antiga arte arquitetônica chinesa. O planejamento urbano tem uma longa história na China. Beijing é uma opção ideal para a pesquisa nesse campo".
É verdade. Beijing é uma das melhores opções para a pesquisa arquitetônica. Ela tem uma história de três mil anos e foi a Capital do país ao longo de seis dinastias.
A maior parte dos Hutongs de Beijing foi construída no século XIII. Hoje em dia, quantos becos Beijing tem? É difícil encontrar um número exato, pois o bairro antigo da cidade vem sendo remodelado nos últimos tempos. Mas há um ditado que diz: há 360 becos famosos e incontáveis becos desconhecidos. Qual o resultado da pesquisa de Florel?
"Ao falar em Hutongs, a gente normalmente se lembra das ruas compridas, portas de madeira e degraus de pedra. Isso é um conceito básico. De fato, esses elementos diferem de acordo com a posição social dos primeiros moradores. Antes eu não entendia por que algumas casas têm escada de três degraus, e outros, quatro até sete degraus. Depois fiquei sabendo que o número refletia a posição social de quem mandou construir a casa. Tudo isso me provoca uma grande curiosidade pelos Hutongs".
Os Hutongs prediletos de Florel são aqueles que se situam no bairro de Qianmen, ao sul da Praça da Paz Celestial, no centro de Beijing.
"Qianmen era um famoso bairro comercial. Era o local mais dinâmico da cidade. Os habitantes aqui eram na maioria comerciantes, proibidos de entrar no Palácio Imperial. Depois vieram para cá muitos migrantes de outras províncias e surgiu um grupo de construções peculiares. É muito interessante pesquisar tudo isso".

Qianmen concentrava o maior número de visitantes na antiga capital chinesa, o que tornou o lugar cheio de lojas, restaurantes e estabelecimentos de entretenimento. Com a chegada constante de moradores, os becos no bairro vinham se tornando cada vez mais estreitos. Em 2003, o governo municipal aprovou o Projeto para Restauração do Bairro de Qianmen, que deve ser efetuado conforme o panorama de Qianmen nos anos 30 do século passado. Em maio próximo, a Rua Qianmen será reaberta ao público.
A maior atração dos Hutongs de Beijing é, de fato, a comunidade que ali vive, que costuma cultivar nos seus pátios jujubeiras e rosas, ouvir ópera chinesa ou jogar xadrez com os vizinhos.
Os beijingneses que moram nos Hutongs mantém um outro hobby - criação de pombos -, o que atrai muita atenção dos visitantes estrangeiros. Florel disse:
"Para nós estrangeiros, o maior charme dos Hutongs reside nos costumes mantidos pelos moradores dali. Eles alimentam pombos, passeam com gaiolas de pássaros, cuidam de plantas e levam seus netos à escola. São cenas muito bonitas. Senti uma atitude positiva tomada pelos beijingneses perante a vida".
Nas horas livres, Florel pinta o que ela vê no cotidiano.
"Observo tudo ao meu lado e os meus vizinhos me observam também. É muito interessante. Eles chegam a mim e perguntam de onde eu venho e o que eu faço aqui. São muito simpáticos e amigáveis. Às vezes eles me convidam para visitar suas casas".
Apesar do crescente número de arranha-céus nesta Capital, os Hutongs continuam sendo um dos símbolos de Beijing.
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