Teias de aranha suspensas nas traves da casa,
Grilos cricrilam nos degraus do alpendre.
Outra vez o vento frio do entardecer
E tu, meu amigo onde estás
O teu lar solitário, desabitado,
Em tempo de separação, difíceis as palavras.
Ninguém mais entra pelo portão de tua casa,
Raios de sol poente passeiam-se na erva de outono.
Gostava muito de receber uma mensagem tua
Mas mil rios e montanhas nos separam.
Após viajar por terras tão distantes,
Regressei agora à minha velha montanha.
Amigos há mais de vinte anos,
Jamais soubemos usar bem nossos talentos,
Tu, sempre pobre e de saúde fraca,
Eu, despromovido, umas poucas moedas no bolso.
Espero por ti, talvez em meados do outono,
Vem, por favor, antes de começar o inverno.
Quanto tempo ainda para o nosso reencontro
Penso nisso todo o dia.
A lua sobre o rio do Leste
A lua sai de dentro da montanha,
Eleva-se, devagar, sobre o portão da casa.
Mil árvores perfuram a umidade do céu,
Nuvens negras voam no espaço.
De súbito, o luar embranquece a floresta,
A terra respira no orvalho frio.
Águas de outono cantam nas cascatas,
Uma névoa azul paira sobre as rochas,
Sobras partidas abraçam cumes vazios,
Como num sonho, tudo é transparente, puro.
De pé, à janela, diante do rio,
De madrugada, sonolento, sem pensar.
Sem pensar - tão perto de Wang Wei, o nosso Fernando Pessoa, via Alberto Caeiro, explica no poema xxxiv de "O Guardador de Rebanhos":
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores, as plantas
E deixava de ver a Terra
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.
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