Entre os anos de 475 e 221 a.C.,a China vivia o período histórico dos Reinos Combatentes. No reino de Qi, um dos sete reinos, o trono era ocupado, no momento, pelo rei Xuan, que gostava de música tocada pelo yu, que era um instrumento musical de sopro feito de bambu. O rei apreciava também as grandes orquestras, constituídas por 300 músicos.
Nan Guo, que não sabia tocar, conseguiu entrar, não se sabe como, para a orquestra que costumava ir tocar ao palácio real, e quando havia um concerto lá estava ele, juntamente com os 299 músicos verdadeiros.
Quando a orquestra começava a tocar, Nan Guo, com o instrumento nas mãos, movia os lábios, imitando cada gesto dos seus colegas. Claro que, lá de cima do trono, o rei Xuan não distinguia o falso músico dos 299 autênticos.
Feliz era Nan Guo, pois, sem saber tocar, ganhava uma fortuna, tal como todos os demais mestres.
Anos e anos se passaram, até que o rei Xuan morreu e seu filho Mim subiu ao trono. O novo rei também gostava de música; mas, em vez de orquestra, preferia os solos, e mandou que os 300 instrumentistas tocassem um por um.
Apavorado, Nan Guo fugiu para nunca mais voltar.
Mais de dois mil anos se passaram, mas desta história ficou o provérbio Um leigo no yu completa o número, que perdurou até aos nossos dias.
Os chineses usam o provérbio para descrever quem ocupa um cargo para o qual não tem a devida competência, mas o provérbio pode também ser empregue em caso de modéstia, como quando, por exemplo, alguém diz:
- Então o senhor já á membro da Associação dos Escritores... Que grande honra!
- Um leigo no yu completa o número - responde o interpelado modestamente.
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