Para falar a verdade, foi meio difícil achar o lugar, escondidinho ao lado de uma das entradas do Yuanming Yuan, um belo parque no bairro universitário na zona norte de Beijing. Passando o portão leste, é preciso atravessar o estacionamento para, lá no canto, descobrir uma alameda sombreada, ladeada por casas de telhados tradicionais, tijolos cor de cinza e cercas de bambu. Não há placas. Mas a trama das cercas deixa entrever, primeiro, uma casa de chá. Depois um café com mesas ao ar livre e, mais adiante, quando o caminho faz uma esquina caprichosa, aparece uma plaquinha discreta onde se lê "Livraria da Rua de Mão Única". Chegamos.
A livraria, em si, ocupa uma edificação térrea, alongada e estreita, com grandes janelas. Lá dentro, sofás convidam à leitura ao lado de prateleiras abarrotadas de livros. Aqui fora, o terreno delimitado pela cerca de bambu lembra um gostoso quintal do fundo das casas do interior do Brasil, um espaço livre, arejado, coberto por uma sombra de árvores muito bem-vinda na tarde quente de verão. Ali mesmo, debaixo daquelas árvores generosas, esparramavam-se cadeiras confortáveis ocupadas por uma platéia atenta. À frente, alguém falava, com vivacidade e simpatia, sobre coisas do Brasil. Era Hu Xudong.
Vice-diretor do Centro de Cultura Brasileira e professor do Instituto de Literatura Mundial da Universidade de Beijing, Hu Xudong conhece o Brasil de perto. Entre 2003 e 2005, Hu morou em Brasília, lecionando língua chinesa na UnB. Movido pela curiosidade característica dos pesquisadores, o professor Hu aprendeu português, fez amigos brasileiros, viajou pelo país de norte a sul, conversou com toda gente, procurou olhar através do cartão postal e abaixo da superfície. As descobertas de cada semana viravam crônicas, publicadas regularmente num jornal de Beijing. Sucesso de público. Os leitores chineses logo queriam saber mais.
De volta a Beijing, o pesquisador decidiu transformar suas crônicas em livro. O país que, de início, lhe parecia distante e difícil de compreender acabou por se tornar uma paixão, sobre a qual ele gosta de falar. A palestra de lançamento do livro no último sábado, conduzida como uma conversa desembaraçada e informal, deixava os ouvintes à vontade para fazer perguntas. E elas brotavam, sobre toda sorte de temas, formuladas com inteligência e interesse: sociedade, literatura, religiosidade, miscigenação, língua, consciência ambiental, raízes culturais, visão de mundo - revelando um "querer saber mais" sobre o que é o Brasil e o que é ser brasileiro. Para essas perguntas, o livro de capa verde-amarela com figuras da literatura de cordel e subtítulo em português ("Uma Paixão Escondida no Brasil") certamente dará, se não respostas, pelo menos algumas pistas. (Amilton)
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