Da pintura, dos segredos da pintura
II
No verão, as árvores antigas escondem o céu, as águas do lago estão serenas, no coração da montanha as cascatas parecem cair das nuvens, o pavilhão solitário respira a frescura da água.
No outono, o céu tem a cor do jade, os bosques de bambus tornam-se densos como florestas, os gansos selvagens sobrevoam o rio, algumas garças-reais esvoaçam sobre os bancos de areia.
No inverno, a neve cobre a terra, um lenhador caminha carregando madeira, lá longe, num cais de areia, um pescador encosta a sua barca.
Para pintar a paisagem é preciso acompanhar as estações do ano, imaginar a paisagem envolta em fumo e bruma, as nuvens que regressam à montanha, um céu de outono que ilumina a madrugada, as estelas quebradas de túmulos antigos, as cores da primavera matizando um lago, o homem solitário num caminho deserto.
Tudo isto são temas a pintar. Os cumes das montanhas não devem ser semelhantes, os cimos das árvores devem ser desiguais.
As montanhas utilizam as árvores como roupagem, as árvores usam as montanhas como suporte.
As árvores não devem ser demasiado frondosas para não impedir a visão do esplendor das montanhas.
As montanhas não devem aparecer demasiado aglomeradas para não impedir o olhar sobre o espírito das árvores.
O homem capaz de cominar estes princípios pode ser considerado um mestre na pintura de paisagens.
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