A exposição
Em muitos países, o Cinema e o Cartaz caminham de mãos dadas desde os primeiros passos do século XX. Quando combinadas em torno de um tema, cada uma destas "artes visuais" procura contar a história à sua maneira: o Cinema, com sua fascinante magia que mescla movimento, som, sombras, luz, fragmentos e tempo; o Cartaz, com síntese, impacto, e sedução.
A exposição de cartazes "Descubra o Cinema Brasileiro" que o Consulado-Geral do Brasil em Xangai inaugura na sexta-feira 15 de junho na Art Scene China Gallery mostra esta relação de uma forma muito brasileira. A exposição faz parte da programação da Mostra Foco Brasil, realizada pelo Consulado-Geral, Ministério das Relações Exteriores e Agência Nacional do Cinema (ANCINE), de 16 a 24 de junho dentro do X Shanghai International Film Festival, o maior evento do gênero na China.
Os designers gráficos brasileiros Billy Bacon e Bruno Porto convidaram 30 designers, ilustradores e fotógrafos de diversas gerações e regiões do Brasil a criarem cartazes de 90cm x 60cm que estimulassem o público chinês a descobrir a riqueza e a beleza do povo e da cultura brasileira através da variada produção cinematográfica deste país.
O resultado é uma inédita e impressionante coleção de imagens fortes e de extrema sensibilidade. Diversas linguagens, técnicas e estilos demonstram como as artes gráficas brasileiras são capazes de interpretar de forma criativa seu cinema.
O texto do catálogo é assinado pelo premiado designer e ilustrador Ricardo Leite, vencedor em 2004 do Jabuti, a maior premiação da literatura no Brasil.
Os cartazes
Um dos cartazes mais delicados e impactantes da exposição é de autoria de Ziraldo, o mais experiente artista gráfico brasileiro em atividade, que em 2007 completa 50 anos de carreira. O cartaz apresenta um rosto que ao "abrir o olho" para o Brasil - em que o olho se transforma na bandeira Brasileira - insinua um sorriso de satisfação.
Esta relação Olho-Brasil também é vista de outras maneiras: na composição fotográfica do designer Leonardo Eyer e na dramática ilustração de Ricardo Cunha Lima. Da mesma forma, diversos cartazes utilizam câmeras, claquetes, projetores e películas - como os cartazes de Walter Vasconcelos, Rafael Ferreira (que mora no Canadá), Daniel Bueno e Rafo Castro - muitas vezes combinados com elementos geométricos da bandeira Brasileira.
O verde e o amarelo, as cores da bandeira Brasileira, foram usados de maneira criativa em imagens subjetivas - como as de Billy Bacon, Marcello Rosauro e do webdesigner Marc Al - ou incorporadas nas diferentes visões da luz da sala de projeção que André Stolarski e Itamar Medeiros propõem. Os designers Guto Lins, Adriana Lins e Fernando Arruda sintetizam através da relação de cores verde-amarelo-vermelho o que seria um olhar cinematográfico brasileiro na China, através dos óculos de cinema 3D, muito comuns na década de 1950. Os mesmo óculos estão incorporados a ilustração do artista gráfico Marcelo Martinez, que transformou o espectador em um turista que pode conhecer o Brasil através de seus filmes. Na mesma linha bem-humorada, Orlando Pedroso, cartunista do jornal Folha de São Paulo, reúne imagens de natureza turística (paisagens, copos de chopp, figuras folclóricas etc) em uma camisa que declara que há muito a se filmar no Brasil! O ilustrador Renato Faccini,que mora na cidade de Curitiba (no sul do Brasil) combinou um boto, animal tipicamente brasileiro semelhante ao golfinho, com um dragão. Em seu corpo, símbolos brasileiros são representados como o papercut chinês.
Mas nem só de cores vive a exposição: a fotógrafa Lilian Granado assina o único cartaz horizontal, uma cinematográfica vista em preto-e-branco do Rio de Janeiro tirada do interior do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, famoso projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. Uma foto feita em uma tribo indígena na Amazônia¬ foi a solução do diretor de arte Batman Zavareze para representar um tema muito presente nos filmes e documentários brasileiros: o futebol.
Outros artistas optaram por fazer relações diretas com temas, títulos e personalidades famosas do Cinema Brasileiro. "Cidade de Deus", talvez o mais famoso filme brasileiro no exterior atualmente, é a inspiração dos cartazes de Mariana Ochs e Felipe Muanis. Enquanto a designer editorial Ochs utiliza o personagem do filme para apresentar um panorama fotográfico do país, Muanis, ilustrador e professor de história do cinema, homenageia o cartaz de outro clássico, "Deus e Diabo na Terra do Sol", da década de 1960. O Nordeste do Brasil é tema dos cartazes do tipógrafo Leonardo Buggy (que vive no Estado de Pernambuco), do pintor Yomar Augusto (que vive na Holanda) e do premiado ilustrador Kako (que vive na cidade de São Paulo).
Usando diferentes técnicas, outros três cartazes prestam homenagens a artistas brasileiros que representam fases distintas da história cinematográfica brasileira: a atriz Leila Diniz (pintura sobre fotografia, por Ruth Klotzel), o ator Jece Valadão (colagem digital, por Claudio Reston) e o comediante Grande Othelo (grafitti, por Eduardo Denne).
Dois cartazes tem como tema a entrada de filmes brasileiros na China moderna em outros suportes que não a tela grande: José Bessa sugere os vários canais de televisão como alternativa de veiculação da produção cinematográfica, e Bruno Porto apresenta o dvd como possibilidade para a popularização dos filmes brasileiros.
Os estudantes
A exposição também inclui cartazes criados por 10 estudantes de Comunicação Visual do Raffles Design Institute de Shanghai, renomada instituição internacional de ensino onde atuam professores vindos dos cinco continentes. As peças são resultado de um seminário sobre Cultura Brasileira - com ênfase em cinema e design gráfico - realizado na Dong Hua University com o apoio do Consulado-Geral do Brasil em Xangai e da ADG Brasil - Associação dos Designers Gráficos.
A comparação conceitual e estética entre os cartazes profissionais e acadêmicos - que incluem ilustração vetorial, pintura, grafitti, fotografia, experimentação tipográfica chinesa e colagem - não só enriquece a exposição, como permite observar os primeiros movimentos da futura geração de designers globalizados que desponta na China do século XXI.
|