Quando querem dizer que as más intenções de uma pessoa acabam sempre por ser descobertas, os chineses - os de educação cuidada, claro - costumam dizer: Quando se desenrola o mapa, aparece o punhal.

Mapa, punhal e más intenções parecem três coisas que nada têm de comum. Mas, conhecendo uma lenda chinesa de há dois mil anos, os leitores compreenderão.

Quando o período dos Reinos Combatentes se aproximava do fim, o rei de Qin, posteriormente conhecido como o imperador Shi Huang ( o primeiro imperador ), começou a pôr em prática o seu plano de conquista, destinado a sujeitar todos os outros seis reinos. No ano de 227 antes da nossa era, o reino de Qin derrotou os reinos de Han e de Zhao, ameaçando o reino de Yan.

O príncipe herdeiro do reino de Yan, cujo nome era Dan, não via outra saída senão recrutar alguém para assassinar o rei do poderoso reino de Qin. Dan sentia um profundo ódio pelo rei de Qin, pois fora capturado por ele e permanecera prisioneiro durante cinco anos, após o que conseguira fugir.

O príncipe Dan tinha conhecido Jing Ke, um aventureiro muito valente, de quem se tornara amigo. Dado que as tropas do reino de Qin se encontravam dispostas ao longo da fronteira Sul do reino de Yan, o príncipe decidiu procurar o seu amigo Jing Ke, a quem expressou o seu desejo de assassinar o rei de Qin, para assim salvar a sua pátria.

- Eu já tinha pensado nisso - disse Jing Ke. Para chegar perto do tirano e assassiná - lo, preciso de duas coisas: um mapa do distrito de Dongang - a melhor parte do território Yan, e que era cobiçada pelo rei de Qin - e a cabeça de Fan Yu - qi, um homem que faz parte da "lista negra"do reino de Qin e que se encontra actualmente no nosso reino.

O príncipe herdeiro forneceu o mapa pedido por Jing Ke; e Fan Yu - qin, sabendo do plano para o assassinar, suicidou - se.

Levando a cabeça de Fan Yu - qin e um punhal cuja lâmina fora untada com veneno enrolado no mapa, Jing Ke partiu para o reino de Qin, junto com outro aventureiro, Wu Yang. À despedida, na margem do rio Yi, Jing Ke, olhando o céu, deu um profundo suspiro, e cantou:

O vento ruge, ruge,

O rio Yi corre frio, frio;

O valente vai, vai,

para jamais voltar!

Jing Ke conseguiu para ambos uma entrevista particular com o rei de Qin; porém, ao chegarem à presença deste, Wu Yang, nervosíssimo, não parava de tremer, despertando certa desconfiança por parte do monarca.

Jing Ke ofereceu então ao rei a caixa de madeira que continha a cabeça de Fan Yu - qin, após o que desenrolou o mapa, revelando assim o punhal. Apavorado, o rei retrocedeu uns passos. Jing Ke deu um salto e agarrou - o pela manga, empunhando o punhal, mas o rei conseguiu soltar - se, e o golpe só lhe rasgou a manga da túnica.

Perseguido por Jing Ke, o rei escondeu - se atrás de uma coluna. Ora sucede que, para sua segurança pessoal, o rei não permitia que ninguém entrasse armado no salão de audiências - eis porque todos os presentes estavam desarmados. Porém, nessa altura interveio o médico do rei, que se colocou entre este e Jing Ke, brandindo o seu estojo de medicina e fornecendo assim ao rei uma boa oportunidade para desembainhar a sua espada e com ela ferir Jing Ke na perna esquerda. Numa última tentativa, este ainda arremessou o punhal contra o rei, mas errou o alvo. Nesse momento, os guardas entraram e mataram Jing Ke e o seu ajudante.

Deste conto nasceu o provérbio Quando se desenrola o mapa, aparece o punhal, significando que as más intenções são inevitavelmente descobertas.