O letrado infeliz
Sempre a estudar, jamais cansado,
Sempre a ler, quase até cegar.
Calos nas mãos, dia e noite segurando a pena,
Dez vezes presente aos exames imperiais,
Finalmente, tão tarde, conseguiu aprovação.
Depois de tanto trabalho, tanta luta, chegou a mandarim,
Mas os cabelos todos brancos, poucos os dias felizes.
Na sua juventude era humilde e pobre,
Agora, poderoso e rico, está velho e doente.
Por detrás dos portões escarlate vive um rapaz,
Quase imberbe, na boca ainda o gosto do leite da mãe,
Mãos finas, pele suave, rosto afável.
Jamais pegou num livro, nunca foi soldado,
Aos vinte anos herdou um título e a fortuna do pai.
Chega a primavera, ele veste peles esplendorosas
E parte à desfilada no seu cavalo lustroso.
De dia, bebendo e jogando com os amigos,
De noite, amando mulheres em casas de prazer.
Gasta o dinheiro, paga dívidas de jogo,
Inunda de moedas o leito das prostitutas.
O rapaz só entende de libertinagem, festas e caçadas.
Todos somos seres vivos, uns sobem alto,
Outros satisfeitos por rastejar cá em baixo.
Sempre assim desde o princípio do mundo,
Não és só tu a entender estas coisas.
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