Melhor beber comigo
I
Não procures a imensidão das montanhas,
Acabarás por tudo detestar.
Teus dentes a doer, por causa da água gelada,
Teu rosto em fogo, por causa da geada nocturna.
Vais pescar, o vento sopra nas encostas,
Regressas de colher lenha, a neve cobre os penhascos.
Melhor beber comigo,
Suave, aveludadamente bêbado.
II
Não te faças mercador,
Conhecerás inquietações e temores.
Na fronteira norte, caminhas na neve e no gelo,
A sul do Grande Rio, dormes ao vento e à chuva.
Se amontoas mil onças de ouro,
Teu barco naufraga, vai a pique.
Melhor beber comigo,
Divertida, galhardamente babados.
III
Não queiras ser camponês,
Chega de contemplar tanta miséria.
Vem a Primavera, é preciso arar a terra pobre,
De madrugada dar de comer ao boi escanzelado.
Caem impiedosos os impostos do governo,
Raro um ano de boas colheitas.
Melhor beber comigo,
Calma, sossegadamente bêbedos.
IV
Não subas às nuvens azuis
Estão inchadas de paixão e ódio.
Todos são sábios, soberbos de seus conhecimentos,
Esmagando o próximo na luta pelo poder.
Grelhados os peixes que mordem o anzol,
Queimados os mosquitos que zunem em volta da luz.
Melhor beber comigo,
Ruidosa, estrondosamente bêbados.
V
Não entres no reino da poeira vermelha,
Desgasta o ânimo e a força dos homens.
Sempre a luta como os dois corninhos do caracol,
Tua vitória igual a um pêlo de boi.
Extingue o fogo aceso pela cobiça,
Pára de afiar a faca que escondes no sorriso.
Melhor beber comigo,
Pacífica, serenamente bêbados.
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