O lago do dragão negro
Bai Juyi
Profundas as águas, negras como tinta-de-china,
Habitadas, dizem, por um venerável dragão.
Na margem levantaram um altar para as oferendas
Epidemias, calamidades, más colheitas, secas, inundações,
Do dragão é a culpa de todos os flagelos.
Para ele os camponeses engordam porcos, destilam vinho,
Unem as vozes, suplicam, rezam, de manhã à noite.
Sopra o vento, vem aí o espírito do dragão,
Esvoaçam no ar chamas de papel-moeda*,
Ondulam no espaço bandeirolas de seda.
Acalma o vento, foi embora o espírito do dragão,
As pessoas partem as oferendas esquecidas sobre as pedras,
O incenso extingue-se, as carnes arrefecem,
O vinho espalha-se na erva diante do altar.
Ignoro há quantos anos o povo adora este dragão,
Mas sei, ano após ano, lautos banquetes para ratos e raposas.
Felizes as raposas, desventurados os porcos
Todos os anos mortos em nome do dragão,
Depois devorados pelas raposas.
Pergunto-me se, no seu nobre retiro, no fundo das águas,
O dragão sabe de tudo isto.
*Há pelo menos quinze séculos que os chineses queimam nos templos papel-moeda falso em honra dos deuses da riqueza, esperando como recompensa a concessão de fortunas reais.
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