Durante o período dos Reinos Combatentes, o primeiro-ministro Mong Chang-jun, sustentava milhares de hóspedes permanentes em sua casa.
Um homem muito pobre, de nome Feng Xuan, pediu a Mong Chang-jun que o hospedasse também, tendo o seu pedido sido aceite. Porém, constatando que Feng Xuan não tinha nenhuma capacidade especial, o administrador da casa só lhe servia comida de má qualidade.
Passado pouco tempo, Feng Xuan, encostado a uma coluna, pôs-se a cantar, fingindo tocar a sua espada com os dedos:
Minha espada, vamos voltar,
Pois aqui nem peixe me servem!
Informando disto, Mong Chang-jun ordenou que lhe servissem peixe, como aos outros hóspedes.
Algum tempo depois, Feng Xuan começou de novo a cantar, tocando a espada com os dedos:
Minha comprida espada, vamos volar,
Pois aqui nem carroça para sair tenho!
E o primeiro-ministro Mong Chang-jun deu-lhe uma carroça.
Passou-se mais algum tempo, e Feng Xuan começou outra vez a cantar, tocando a espada com os dedos:
Minha comprida espada, vamos voltar,
Pois aqui nem posso sustentar a família!
Através do seu administrador, o primeiro-ministro soube que Feng Xuan tinha uma mãe muito idosa, e mandou que lhe dessem tudo o que necessitasse.
Desde então, Feng Xuan não voltou a cantar.
Certa vez, Feng Xuan tomou a iniciativa de pedir a Mong Chang-jun que o encarregasse de cobrar as dívidas no feudo de Xue, que era do primeiro-ministro. Chegando a esse feudo, Feng Xuan convocou os moradores e informou-os de que Mong Chang-jun decretara que quem não estivesse em condições de pagar as suas dívidas seria perdoado; mas esta ordem não tinha provindo do primeiro-ministro, fora invenção de Feng Xuan. No entanto, este queimou todos os documentos de dívida.
Feng Xuan voltou então de mãos vazias à capital, onde prestou contas ao primeiro-ministro:
---- A minha missão foi cumprida ---- disse ele. Comprei prestígio para o primeiro-ministro.
Porém este, como é lógico, não ficou nada contente.
Um ano depois, o rei de Ji, dando crédito às calúnias que lhe foram contar, demitiu Mong Chang-jun, e este viu-se obrigado a abandonar a capital e a voltar ao seu feudo.
Ainda faltavam uns 50 quilômetros para lá chegar quando deparou com milhares e milhares de habitantes de Xue ---- homens, mulheres, velhos e crianças ---- que vinham recebê-lo. Comovido, Mong Chang-jun agradeceu a Feng Xuan:
---- Só hoje é que vi, com os meus próprios olhos, o prestígio que compraste para mim.
Ao que Feng Xuan respondeu:
---- Para escapar à morte, os coelhos astutos têm três tocas. Agora, vós tendes apenas uma, por isso ainda não podeis estar tranquilo, e eu quero cavar-vos mais duas.
Com 50 carroças e grande quantidade de ouro oferecidos pelo ex-primeiro-ministro, Feng Xuan dirigiu-se ao reino de Wei, a cujo rei disse:
----Quem conseguir convidar Mong Chang-jun para primeiro-ministro obterá prosperidade e força para o seu reino.
O rei de Wei mandou imediatamente um enviado para convidar Mong Chang-jun a vir para junto de si, mas Feng Xuan conseguiu chegar a Xue antes do enviado do rei e pediu a Mong Chang-jun que recusasse o convite.
Três meses foi o enviado do rei de Wei ao feudo de Xue, mas três vezes Mong Chang-jun recusou o seu convite.
Percebendo que o reino vizinho estimava Mong Chang-jun, o rei de Ji arrependeu-se, admitiu os seus erros e nomeou de novo aquele para o cargo de primeiro-ministro.
Imediatamente após, Feng Xuan pediu ao rei que cedesse a Mong Chang-jun parte dos objectos destinados a homenagear os antepassados. Com a permissão do rei, mandou construir no feudo de Xue um templo para guardar esses objectos. Assim, a posição de Mong Chang-jun tornou-se ainda mais sólida.
Então, Feng Xuan disse a Mong Chang-jun:
----Agora estão abertas as três tocas: podeis ficar completamente tranquilo.
Até hoje, o provérbio continua a ser usado pelos chineses, para dizer que alguém tem muitos refúgios para se abrigar na desgraça, ou vários planos que lhe permitem aumentar a sua margem de manobra.
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