Poema mesclado
Wang Wei
De manhã, quebrei um ramo de salgueiro
Quando vos vi, na muralha da cidade.
Dizem ser eu a mais bela do reino de Zhou,
Pertenço ao clã dos Qin, mas sou casada.
Minhas pulseiras de esmeralda voltam-se para vós,
Na penumbra desaperto minha camisa de seda.
Os cavaleiros chegados do leste
Falam da morte de meu esposo, na guerra.
Peço-vos, sede gentil para comigo,
Trazei canecas de jade, meu amigo.
Xin Yannian, no Cavaleiro da Floresta das Plumas, um texto do século III da nossa era, conta a história que Wang Wei foi buscar para escrever este poema.
"O jovem Jin passou diante da porta de uma mulher muito bela. Sua sela de prata brilhava ao sol, o cavalo estacou. O cavaleiro convidou a dama a beber em canecas de jade, ofereceu-lhe um espelho de cobre azul, deixou-lhe uma camisa de seda vermelha, mas de seda rasgada.
Depois, acabou por desprezar a carne da beldade.
Um homem jovem ama a sua esposa, uma senhora ama o seu primeiro marido. O novo e o velho fazem parte da vida, o nobre e o vulgar não se devem mesclar, o amor venal é mesquinho."
Ao modo confuciano, creio que Wang Wei pretende, com este poema, criticar a viúva que não soube ser fiel à memória do marido. Mas porque não adivinhar também o grito da mulher que quer ser diferente?
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