Nos montes Zhongnan
Wang Wei
Taiyi*, tão perto da cidade do céu,
A montanha desdobrando-se ao encontro do mar.
De longe, envolta em nuvens brancas,
De perto, esfumada em névoa azul.
O pico do meio acariciando as estrelas,
No vale, luz e sombra contrastando.
Ao entardecer, procuro um abrigo para repousar,
E, sobre as águas, falo a um lenhador.
*Taiyi é o ponto mais alto dos montes Zhongnan situados próximo de Chang´an, a cidade do céu, capital do império chinês. Taiyi e Chang´an são igualmente nomes de duas estrelas.
François Cheng, na sua L´Écriture poétique chinoise, Paris, Ed. Seuil, 1977, p. 170, traduz também este poema e acrescenta a seguinte nota: "Por causa do duplo sentido de numerosas palavras e da ambiguidade sintáctica intencional de alguns versos, o poema procura deliberadamente confundir dois tipos de ordens, a ordem celeste (feito-supremo, cidade do céu, yin-yang, etc.), e a ordem terrestre (os montes Zhongnan, Chang´an, a capital, encosta norte, vertente sul, etc.). O leitor tem a impressão que o poema relata, muito mais do que o simples passeio de um poeta pelo montes, a visita ao mundo terrestre de um espírito divino que depois de vaguear pelo cimo da montanha, desce, pouco a pouco, para o vale e acaba por pedir a um lenhador que lhe consiga um abrigo."
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