A abertura ao público de um conjunto de antigos complexos arquitetônicos na Montanha Fênix, cidade de Yichang, na província de Hubei, marcou o fim de um árduo processo de 14 anos voltado ao resgate dos patrimônios culturais da região de Três Gargantas, palco da construção da maior hidrelétrica do mundo. Templos, residências, portões de cidade, arcos comemorativos e antigas pontes localizadas nas vinte zonas a serem inundadas foram deslocados para a Montanha Fênix. Entre eles, o único templo chinês construído há mais de mil anos em homenagem à divindade das águas do lendário rio Yangstê. O diretor da sessão de Patrimônios Culturais da Administração de Relíquias Culturais de Hubei, Zhu Jianhua, comentou:

"O deslocamento dessas estruturas foi uma importante parte de nosso plano. O afastamento do ambiente original exige não só a proteção da construção, mas atenção redobrada, especialmente à relação entre o novo ambiente e as obras deslocadas".

Com o empreendimento, a Montanha Fênix passou a concentrar o maior acervo cultural resgatado da região Três Gargantas, um dos berços da antiga civilização chinesa. A região é marcada pela riqueza e diversificação em termos de residências, templos, pontes, túmulos, esculturas e ferramentas de pedras, cujos fragmentos remontam ao período Paleolítico.

Segundo o diretor da Administração de Patrimônios Culturais de Hubei, Shen Haining, o censo especial sobre os patrimônios culturais da região começou em 1992, dois anos antes do começo da obra hidráulica. O trabalho contou com a participação de profissionais vindos de mais de cem entidades arqueológicas do País. Ele falou:

"Graças à intensa pesquisa sobre a viabilidade do empreendimento e às verbas disponibilizadas pelo governo, o resgate dos patrimônios culturais na região entrou em bom andamento. Além disso, a conclusão do reservatório de água levou cerca de uma década, concedendo o prazo necessário para que nós nos preparássemos".

Conforme Shen, a descoberta do acervo também conquistou resultados positivos ao longo desse processo de resgate: o símbolo na gravura desenterrada das ruínas de Liulinxi despertou a atenção dos lingüistas chineses; a estátua de pedra com forma humana descoberta na região pode ser uma das mais antigas do período Neolítico já encontradas na China; as ruínas do antigo distrito de Badong serão documento essencial para conhecer a sociedade chinesa entre os séculos VI e XI.

Para preservar o acervo recém desenterrado, Chongqing, município central situado no curso superior do rio Yangstê estabeleceu o Museu das Três Gargantas, enquanto o distrito de Zigui montou na Montanha de Fênix o Centro para Proteção do Acervo das Três Gargantas. Além disso, o projeto utilizou a tecnologia 3D, meticulosamente elaborado pela Universidade Normal Huazhong, para sustentar o processo de deslocamento e resgate do solo, bem como a evolução da zona de Três Gargantas. O doutor Tan Guoxin, responsável pelo projeto, explicou:

"Com o projeto é fácil perceber o desenrolar do desenterro do acervo. Anotamos também por tecnologia 3D a história, a evolução do clima, bem como a mudança em costumes biológicos nesta região".

Segundo Shen Haining, mais de 50 universidades e entidades arqueológicas chinesas estão se empenhando em pôr em ordem e pesquisar os dados e documentos obtidos. Ele falou assim:

"Estamos sistematizando os dados e documentos para pesquisar o acervo descoberto ou desenterrado. Mantemos também contatos com colegas dos EUA, Japão, Coréia do Sul e Canadá para aperfeiçoar nossa pesquisa".