Terminou ontem (9) em São Paulo a conferência anual do G20 para ministros das Finanças e chefes dos bancos centrais. A reunião de dois dias chegou a consenso sobre uma resposta conjunta à crise financeira e ressaltou a necessidade de uma reforma profunda de órgãos financeiros internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Contudo, a apresentação de medidas concretas para enfrentar a crise financeira ficou para a reunião de cúpula a ser realizada em Washington no dia 15.

Os países do G20 concordaram em tomar ações como aumento do investimento e redução de impostos, a fim de prevenir maior desaceleração econômica. Eles ainda concordaram em regular a ordem financeira, sobretudo as atividades dos órgãos financeiros não-bancários.

Na coletiva à imprensa após a conferência, o ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, revelou que em dois ou três meses depois da Cúpula de Washington, será elaborado o cronograma de medidas concretas. Ele enfatizou que os líderes dos diversos países devem desempenhar um maior papel político na reforma dos sistemas financeiros nacionais.

Antes disso, a França, que ocupa a presidência rotativa da União Européia (UE), definiu um prazo de cem dias para que os países possam agir de modo a evitar uma nova crise de crédito. Mantega disse que também vai tentar cumprir o plano dentro do prazo, mas considera que isso vai ser difícil para os EUA por causa da transição de governos.

O Brasil e outros países sugeriram na conferência a reforma dos órgãos financeiros globais para dar mais direito de participação aos países emergentes. Mantega considera necessário reforçar o papel do G20 na coordenação das ações internacionais e nas entidades econômicas mundiais. Segundo o documento final publicado após a conferência, se o FMI der direito de representação a mais países, ele vai ser considerado um órgão de coordenação das ações comuns.

O reforço do papel do G20 e a reforma dos órgãos financeiros internacionais se tornaram consenso entre os participantes da conferência. O Brasil ainda sugeriu elevar o nível da Conferência do G20 com participação somente dos ministros das Finanças e chefes dos bancos centrais para um encontro entre líderes, a fim de melhorar a capacidade de coordenação do grupo. No entanto, a conferência não discutiu a fundo as maneiras de concretizar a reforma porque, em apenas uma conferência, é difícil elaborar um projeto que satisfaça aos interesses das diversas partes, já que países desenvolvidos e emergentes têm exigências próprias. "Essa0 é uma discussão de nível técnico" que "precisa de algum tempo", admitiu o ministro brasileiro.

Vale mencionar que as medidas da China para alívio da crise financeira foram elogiadas pelos participantes da conferência. O presidente do Banco Mundial Robert Zoellick disse anteontem (8) que o governo chinês, numa política que ele qualificou como "muito sensata", aproveitou a situação financeira favorável dos últimos anos e melhorou a infra-estrutura aplicando um grande volume de investimento estrangeiro.

A imprensa considera que esta crise financeira sem precedente ainda não terminou e que, para enfrentá-la, é preciso uma estreita cooperação internacional. O consenso entre membros de G20 para o enfretamento da crise vai beneficiar a recuperação da estabilidade do mercado financeiro mundial. Como afirmou o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de abertura da conferência, nenhuma medida unilateral pode resolver a atual crise financeira internacional, este é um problema cuja solução requer a coordenação de vários países, e as nações desenvolvidas, em especial, devem desempenhar um papel orientador.