A 63ª Assembléia Geral da ONU realizou ontem (30) uma reunião especial na sede da organização em Nova Iorque para discutir a crise financeira que atingiu todo o globo. Representantes dos países-membros da ONU e economistas renomados discutiram soluções para o problema atual e vias para o sistema financeiro. Os participantes consideram que é preciso empreender uma reforma do sistema financeiro vigente.
O presidente da 63ª Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Escoto Brockman, afirmou em seu discurso que a comunidade internacional deve reformar o sistema financeiro para ajudar a restaurar a confiança perdida devido à crise financeira que se alastrou pelo mundo.
A comunidade internacional, segundo ele, tem a responsabilidade de discutir medidas de longo prazo, em vez de se limitar a pensar em proteção aos bancos, estabilização do mercado e garantia de investimentos, entre outras ações de curto prazo.
O presidente assinalou que o sistema financeiro vigente não reflete a natureza globalizada e interdependente da economia mundial. A solução para o problema, segundo Brockman, está na criação de um novo sistema onde todos os países possam participar.
Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel e ex-economista chefe do Banco Mundial, apoiou o ponto de vista de Brockman e considerou que está na hora de criar outro Sistema Bretton Woods.
Ele destacou que é preciso assegurar quatro princípios no combate contra a crise financeira, a saber: justiça e solidariedade; união e cooperação da comunidade internacional; manutenção do equilíbrio entre governo e mercado; e, por fim, elaboração democrática e transparente do sistema.
Stiglitz criticou as medidas equivocadas do governo norte-americano e de outros países, dizendo que "eles não controlaram a expansão dos bancos e ficaram na obrigação de ajudá-los a fim de evitar sua falência". Todo o mundo sofreu os impactos causados por esses erros. Embora todos os países tivessem adotado medidas para salvar seu setor bancário e sistema financeiro, as pessoas que perderam seus empregos ou propriedades não receberam indenizações reais.
O economista indicou que os mercados emergentes não têm relações diretas com os erros que geraram a crise, apesar disso, não puderam evitar os impactos causados por ela. Como conseqüência, a resolução da questão deve tomar em consideração esses países e regiões.
Stiglitz classificou o sistema financeiro vigente como desfavorável para as economias emergentes, que não têm o direito de palavra em determinadas situações. Ele propôs que as decisões sejam feitas em um mecanismo internacional com a maior legalidade política, que dá suficiente direito de palavra aos países de média renda e mais subdesenvolvidos. Para ele, a ONU é precisamente a entidade com esse perfil.
Outros participantes da reunião também expressaram suas opiniões. O representante francês, que falou em nome da União Européia, disse que os países devem pensar na criação de um sistema internacional de monitoramento que possibilite a todos os países afetados participarem e assumirem responsabilidades.
Representando o Grupo dos 77 e a China, o delegado de Antigua e Barbuda ponderou que é preciso resolver o problema atual ao mesmo tempo em que se ajuda a economia global desacelerada a sair da dificuldade.
Especialistas e representantes na reunião manifestaram insatisfação com o atual sistema financeiro. Os países em desenvolvimento exigiram o estabelecimento de uma nova plataforma que possa apoiar seu desenvolvimento. Muitos deles assinalaram que cabe à ONU liderar o processo.
Os participantes também concordaram que os profissionais do desenvolvimento e operação econômica do mundo não se limitam a professores de certas universidades, mas vêm de todos os cantos do mundo como China, Índia, México e Coréia do Sul, entre outros países.
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