A líder do partido Kadima e chanceler de Israel, Tzipi Livni, propôs no dia 26 ao presidente Shimon Peres antecipar a eleição parlamentar do país. Analistas consideram que a eleição provavelmente será realizada no final de janeiro ou em fevereiro de 2009, um ano antes da data agendada.
Na tarde de ontem, Livni apresentou a Peres o andamento da formação do gabinete. A chanceler disse que fez todos os esforços e admitiu que é quase impossível criar um novo governo. Ela assinalou que não formará um gabinete a custo do futuro da economia e da política israelenses e que, na situação atual, é necessário antecipar a eleição.
Livni foi incumbida de formar gabinete em 22 de setembro. Apesar dos acordos primários com o Partido Trabalhista, a chanceler encontrou dificuldades nas discussões com o partido Shas, que defende não fazer concessões à Palestina nas negociações sobre o futuro estatuto de Jerusalém e destinar 1,5 bilhão de shekels novos do orçamento de 2009 para subsídios às crianças. Livni rejeitou as exigências e acabou não conseguindo entrar em acordo com o Shas.
Após o episódio, Peres deu mais 14 dias para a criação do gabinete. No dia 24, o Shas anunciou a suspensão das negociações com o Kadima alegando que o partido não havia atendido a duas exigências, com isso, foram por terra os esforços de Livni para a formação do gabinete. Ao fazer uma avaliação geral da situação interna e externa, Livni decidiu sugerir a antecipação da eleição ao presidente no final do prazo estabelecido para a reestruturação governamental.
Após receber a nota de Livni, o presidente Peres começou a conversar com líderes dos partidos do parlamento, conforme os procedimentos legais. De acordo com as leis de Israel, Peres terá três dias para tomar a decisão. Após todas as negociações, ele pode selecionar outro membro do parlamento para continuar os trabalhos ou dar início ao processo para a antecipação da eleição.
O ministro da Indústria e Comércio de Israel e presidente do partido Shas, Eli Yishai, revelou após um encontro com Peres na noite de ontem que o presidente provavelmente ouvirá a sugestão de Livni. Outro líder do Kadima, Yoel Hasson, afirmou a Peres que o partido planeja apresentar hoje a proposta sobre a dissolução do parlamento. O presidente do Partido Trabalhista, Ehud Barak, pediu que os partidários se unam e se preparem para a seleção dos candidatos. O grupo Likud, por seu lado, aproveitou a oportunidade para pressionar o Kadima ao mesmo tempo em que afirma poder realizar a primária do partido em dezembro.
Um dos efeitos da antecipação da eleição é o prolongamento das turbulências políticas em Israel. Com a renúncia de Ehud Olmert, em 21 de setembro, o meio mais conveniente para estabilizar a situação política é a formação do gabinete por Livni dentro de 42 dias. O fracasso das tentativas dela indica que Israel entrará em um período de meses de caos político, em que os partidos vão brigar até ao final da eleição parlamentar no ano que vem.
Além disso, a antecipação da eleição trouxe mais incerteza às negociações de paz com a Palestina. O fracasso da reorganização governamental de Livni possibilitou que Ehud Olmert continuasse no cargo como primeiro-ministro interino e, provavelmente, ele vai se esforçar para conseguir avanços antes que George W. Bush deixe a Casa Branca. Entretanto, na situação atual, Olmert já não tem capacidade suficiente para fazer concessões.
A antecipação da eleição vai desviar a atenção de Tzipi Livni, que também é encarregada da missão israelense nas negociações com a Palestina. Uma pesquisa de opinião revelou que o Likud, maior partido oposicionista, pode vencer na eleição antecipada.
A preocupação dos analistas é que o o líder do Likud, Binyamin Netanyahu, reajuste a orientação sobre as negociações de paz com a Palestina para uma abordagem mais dura e rigorosa.
Tudo isso mostrou que é mínima a possibilidade de a negociação obter avanços neste período e, nesta situação, o adjunto do presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas, Nabil, Abu Rdeneh, lamentou que o tempo é muito precioso, mas alguns meses no futuro ainda vão se perder na eleição presidencial de Israel, e dos EUA. O negociador palestino Saeb Erekat desejou que "Israel persistirá no processo de paz".
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