Na cúpula de outono da União Européia terminada ontem em Bruxelas, os 27 líderes europeus concordaram em enfrentar juntos a atual crise financeira com base no plano de ação conjunta aprovado dia 12 na Cimeira da Zona do Euro. Como sinal do resultado deste encontro, a palavra "crise" tem sido recorrente nas considerações dos governantes do bloco e o reforço das coordenações é apontado como o caminho para enfrentar os desafios de maneira unificada. Os líderes europeus demonstram pela primeira vez uma posição unânime diante da crise global, o que significa que os governos dos países membros estão cada vez mais inclinados a se unir para superar as dificuldades.

Diante da forte crise financeira, os países europeus adotaram desde o início medidas preventivas, mas as ações isoladas surtiram pouco efeito. O presidente da Comissão da UE José Manuel Barroso indicou antes desta cúpula que qualquer ação unilateral pode prejudicar os interesses globais da UE. A declaração presidencial publicada após a reunião afirma que os líderes dos países do bloco concordaram em adotar uma ação unificada e coordenada para retomar o bom funcionamento do sistema financeiro, a fim de garantir o crescimento da economia européia, assim como concordaram em lançar um pacote de estímulo à economia e ao emprego.

Paralelamente, com o apelo aos países para a adoção de medidas de estabilização do mercado financeiro, os líderes europeus focaram não apenas na própria UE. O presidente francês Nicolas Sarkozy disse que a comunidade internacional precisa efetuar uma reforma corajosa no sistema financeiro vigente, para evitar a repetição da crise. Ele propôs a realização de uma cúpula global antes do final deste ano para discutir o tema, a fim de promover o estabelecimento de uma nova ordem financeira internacional. Sarkozy afirmou em coletiva à imprensa realizada ao final da reunião que a Europa tem pela frente não apenas uma crise financeira: com o agravamento da turbulência no mercado financeiro, a crise econômica está próxima. Para evitar a ampliação da recessão econômica, a declaração pede que a Comissão Européia aprove, até final do ano, medidas para ajudar a elevar competitividade internacional das empresas do bloco.

A cúpula também discutiu o pacote de medidas sobre energias e mudança climática, tema que é uma prova para a política ambiental unificada do bloco. No primeiro dia do encontro, circulavam informações de que Itália e Polônia teriam rejeitado a proposta e que os países europeus estariam enfrentando obstáculo sobre o plano de redução de emissões e poupança energética. Em março passado, a UE fez uma promessa unilateral de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em 20% com relação ao volume de 1990. O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi considera que, na crise financeira, o cumprimento dessa meta vai aumentar os custos de produção para a economia de diversos países que já se encontram em dificuldades. Na declaração emitida após o encontro, os líderes propõem ao governo francês e ao Conselho Europeu que formulem, nas próximas semanas, políticas condizentes à realidade dos países. A declaração expressa otimismo com a perspectiva para o lançamento de um pacote de medidas sobre energias e mudança climática até janeiro do próximo ano.

No que diz respeito aos temas contidos no Acordo de Lisboa como a crise da integridade européia e o relacionamento com a Rússia, a presente cúpula não deu respostas claras e adiou a discussão para a cúpula de Inverno. Analistas acreditam que o receio da crise, recentemente instalado entre os líderes da UE, vai fazer com que os governos considerem mais os interesses integrais do bloco.