Com a intensificação da crise financeira, o senado norte-americano ratificou a versão modificada do pacote de socorro financeiro proposto pelo governo Bush, em busca de salvar a confiança do mercado. Neste momento crucial, o Banco Central Europeu, porém, não tomou medidas explícitas. No entanto, muitos economistas consideram que as indicações do presidente do Banco, Jean-Claude Trichet, feitas após a reunião, mostram que a Europa não está longe de baixar sua taxa de juro.

Apesar das pressões do governo francês e do maior sindicato europeu, o Verdi, para estimular a economia, o Banco Central Europeu tomou a decisão de manter a atual taxa. Resultados de um levantamento junto a economistas dos principais bancos do mundo, feito pelo jornal alemão, Financial Times Deutschland, revelaram que 80% dos entrevistados não esperavam que o Banco Central Europeu mudasse a taxa de juros.

Pode-se concluir que o mercado já teve perspectivas sobre a decisão do Banco Central Europeu. Segundo o presidente Trichet, os diretores do Banco enfatizaram a necessidade de confinar a inflação ao nível previsto e concordaram de forma unânime na manutenção da taxa de juro.

Entretanto, outras informações de Trichet são mais indicativas. Ele disse que o risco assimétrico da economia européia aumentou, enquanto a pressão inflacionária diminuiu. Além disso, o consumo individual ficou mais fraco e as condições de empréstimo se deterioraram, o que fez o mercado financeiro enfrentar incertezas extraordinárias.

Muitos economistas consideram as palavras de Trichet indicações de uma futura redução da taxa de juro. Adicionalmente, Trichet reconheceu que, devido às agitações no mercado financeiro mundial e à desaceleração do crescimento econômico na zona do euro, os diretores do BC Europeu discutiram planos tanto de manutenção quanto de redução da taxa de juro. Analistas assinalaram que é a primeira vez que o BC Europeu cogitou reduzir a taxa de juros, o que tem um significado especial.

A julgar pelas análises, é possível que o BC Europeu ratifique a redução da taxa de juro em 2009 e até ainda este ano. Se isso se concretizar, será a primeira vez em cinco anos que o Banco reduz a taxa de juro.

A perspectiva da redução da taxa de juro também se refletiu na taxa de câmbio. Após as afirmações de Trichet, a taxa de câmbio do euro em relação ao dólar caiu para 1,3745, o ponto mais baixo em 13 meses, e o índice DAX, da bolsa de valores de Frankfurt, aumentou 20 pontos.

Sendo o órgão de decisão das políticas monetárias da Europa, o Banco Central Europeu tem tomado como prioridades estabilizar os preços dos produtos e lutar contra a inflação, estabelecendo o teto do indicador inflacionário em 2%. Com os impactos das turbulências no mercado financeiro internacional, o aumento dos preços de energia e matérias-primas, a economia da zona do euro não pode evitar uma desaceleração. Não obstante, o Banco Central Europeu tem se recusado a cortar a taxa de juro, com o argumento da alta da taxa inflacionária dos países da região.

Diferentemente do Federal Reserve, o banco central norte-americano, que reduziu a taxa de juro de 5,25% para 2%, o Banco Central Europeu tem mantido a taxa perto de 4% e até a aumentou em 0,25 ponto percentual, para 4,25%, em julho deste ano.

A alta taxa de câmbio agravou os problemas da economia da zona do euro, especialmente da exportação. Os impactos negativos foram intensificados com a crise da economia mundial e as desordens financeiras. Economistas assinalaram que o Banco Central Europeu está em um dilema e, por isso, tomou a decisão de não mudar a taxa de juro.