O Congresso dos Estados Unidos rejeitou ontem (29) o plano de socorro ao mercado financeiro proposto pela administração Bush, que previa um total de US$ 700 bilhões em investimentos de emergência. O resultado surpreendeu o governo, Wall Street e muitos norte-americanos.
Apesar de o presidente Bush e os líderes dos dois partidos no Congresso terem enfatizado repetidas vezes que a economia americana correria o risco de recessão se o plano de socorro não fosse aprovado, o Congresso não se sujeitou à pressão. Os congressistas destacaram que uma decisão precipitada imporia prejuízos inesperados à política e à economia do país.
Segundo analistas, os congressistas concordam com a necessidade de adotar medidas para superar a crise econômica atual, mas eles não querem correr os riscos políticos por situações não-reversíveis no futuro.
A Câmara dos Deputados vetou por 288 votos a 205 o plano, que foi discutido várias vezes entre a administração Bush e os líderes partidários do Congresso. Segundo estatísticas, dois terços dos deputados republicanos e 40% dos democratas votaram contra a proposta.
O presidente Bush havia pedido aos congressistas a aprovação do plano. O porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto, revelou que Bush ligou para os congressistas na véspera da votação para conquistar mais apoio. No entanto, com a chegada das eleições presidenciais, muitos congressistas não querem se arriscar a apoiar o plano da administração Bush.
Os últimos levantamentos mostram que 74% dos eleitores consideram que a economia americana continuará se deteriorando se o Congresso não tomar medidas imediatas, mas os congressistas hesitaram, duvidando se os eleitores acham esta a melhor solução e sobre como lidar com situações inesperadas.
Um congressista republicano do estado de Wisconsin representou a postura de muitos colegas seus: "Não queremos correr o risco de perder o emprego. Espero que o plano seja aprovado, mas é melhor que os outros votem a favor."
O plano de socorro do governo Bush tem enfrentado dificuldades desde que foi apresentado ao Congresso, em 20 de setembro. Os partidos Republicano e Democrata alcançaram consensos quanto ao programa no dia 25. Porém, a reunião realizada logo depois entre Bush, os dois candidatos à presidência norte-americana e os líderes dos dois partidos no Congresso não conseguiu avanços.
A administração Bush alertou para os resultados graves da lentidão no socorro ao mercado financeiro, mas os congressistas não fizeram nenhuma concessão nos meios para proteger os contribuintes. Acordos foram alcançados no dia 28 entre o governo Bush e os líderes dos dois partidos, com alterações no plano. Segundo o novo programa, o Congresso vai ter maior controle sobre a verba de US$ 700 bilhões a ser liberada. Deste valor, US$ 250 bilhões poderão ser usados pelo governo imediatamente após a aprovação do plano, US$ 100 bilhões devem ser canalizados com a autorização de Bush e os restantes US$ 350 bilhões só podem ser usados após a avaliação do Congresso.
O veto resultou em novas divergências na aliança provisória entre os republicanos e os democratas a respeito do plano de socorro. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, assinalou antes da votação que a política econômica precipitada e sem supervisão do governo Bush e de John McCain levou à atual crise econômica. O governo Bush quer que os contribuintes paguem pela crise, disse ela. O presidente do Comitê de Serviços Financeiros do Congresso, Barney Frank, ponderou que o veto por dois terços dos deputados republicanos foi a maior oposição a Bush.
Segundo o porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto, Bush ficou muito decepcionado com a rejeição do Congresso a seu plano de socorro. O secretário do Tesouro, Henry Paulson, também manifestou sua decepção extrema e destacou que a economia mundial está diante de ameaças e os Estados Unidos devem tomar ações o mais cedo possível. Segundo Fratto, Bush vai discutir novos planos com os funcionários do governo e a questão mais urgente para os líderes do Congresso também é encontrar uma nova solução.
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