O governo iraquiano assumiu ontem (1) o controle de segurança da província de Anbar, no oeste do país. Em cerimônia realizada na capital provincial, Ramadi, as tropas dos EUA transferiram a defesa da província sunita a Bagdá. Até o momento, o Iraque já retomou a defesa de 11 das 18 províncias do país e esta é a primeira vez que retoma uma província sunita de concentração de muçulmanos.
Com o início da Guerra do Iraque, em 2003, o território iraquiano se tornou um campo de batalha entre tropas americanas e forças armadas anti-EUA. Diversas atividades terroristas da organização "Al-Qaeda" também começaram a ocorrer no país. Como a maior província do Iraque, Anbar tem sofrido com os conflitos entre tropas norte-americanas e forças armadas anti-EUA. A Al-Qaeda também tomou a província como sua sede no Iraque.
A batalha de Fallujah, a mais renhida desde o início da guerra, aconteceu em 2004 em Anbar. Diante dos crescentes números de mortes tanto de militares norte-americanos quanto de guerrilheiros anti-EUA, as tropas norte-americanas no Iraque utilizaram as armas mais avançadas e dezenas de milhares de soldados de elite para reprimir as forças anti-EUA na cidade. Com combates duradouros, as tropas americanas retomaram o controle de Fallujah à custa de centenas de mortos e feridos entre seus militares.
No entanto, o controle de Fallujah e de toda a província de Anbar pelas tropas norte-americanas não trouxe segurança nem estabilidade à província. Guerrilheiros e membros da Al-Qaeda que se espelharam escondidos em Anbar têm criado atentados terroristas e até seqüestraram o governador da província, além de realizar freqüentes ataques contra as tropas norte-americanas. Nesses últimos cinco anos, os oficiais seniores das tropas dos EUA têm considerado Anbar a província com a pior situação de segurança no Iraque. O ex-secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, reconheceu que Anbar é a província onde as atividades terroristas eram mais intensivas.
A situação de segurança em Anbar apresentou melhorias entre julho e agosto do ano passado e o número de atos de violência registrou uma queda significativa. Washington tem atribuído a mudança ao envio de mais 30 mil soldados ao Iraque, ratificado pelo presidente George W. Bush no começou do ano passado. Porém, analistas ponderaram que a melhora da segurança em Anbar se deve ao surgimento do Movimento de Despertar (MD). O MD, organização criada por personalidades sunitas influentes em Anbar, defende se aliar às tropas norte-americanas para combater em conjunto a Al-Qaeda. A organização, que chegou a ter 80 mil integrantes, desempenhou um papel crucial na estabilização da província de Anbar.
Em setembro do ano passado, o presidente Bush fez uma visita inesperada ao Iraque, levando a secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o secretário de Defesa, Robert Gates. Na visita, Bush não visitou a "zona verde" de Bagdá, que tem o nível mais alto de segurança, mas ficou por volta de seis horas em uma base das tropas norte-americanas em Anbar. A ação dele quer mostrar a melhoria evidente da situação de segurança na província.
Porém, a transferência da defesa de Anbar ao governo iraquiano só aconteceu um ano após a última visita de Bush ao Iraque. Isso refletiu que ainda existem incertezas na segurança da província. Como disse uma nota divulgada ontem pelo exército norte-americano, a transferência do controle de segurança de Anbar constitui um marco importante, mas não significa a estabilização da segurança na província. Só mostra que o governo iraquiano já é capaz de tratar dos assuntos de segurança locais.
Na realidade, a estabilização na província com a pior situação de segurança não significa necessariamente uma melhoria completa em todo o Iraque. A defesa de outras sete províncias ainda não foi transferida a Bagdá. Ainda é cedo para dizer quando será o fim da desordem no Iraque após cinco anos de conflitos em seu território.
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