Começou ontem (3) em Roma, na Itália, a Conferência de Alto Nível sobre Segurança Alimentar Mundial.
Os principais tópicos na agenda são a alta dos preços de alimentos, as mudanças climáticas e a crescente produção de biocombustíveis. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, discursou na cerimônia de abertura fazendo um alerta por sua própria experiência:
"Recentemente, na Libéria, encontrei pessoas que normalmente comprariam arroz em sacos. Hoje, eles o compram em xícaras. Na Costa do Marfim, os líderes de um país que está se recuperando de conflitos e tentando criar a democracia me disseram como temem que distúrbios de alimentos possam desfazer seus trabalhos árduos. Temos o mesmo medo em outros países que, com a ajuda da ONU, obtiveram êxitos nos últimos anos, como Afeganistão, Haiti e Libéria, entre outros."
Estimativas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla em inglês) refletem que os preços de alimentos vêm aumentando desde 2006. O índice de preços dos produtos agrícolas subiu 24% no mercado internacional em 2007 e o aumento da cifra alcançou 53% no primeiro trimestre de 2008 em relação ao mesmo período do ano passado. Com a expansão natural da população, haverá mais demanda por alimentos. O diretor-geral da FAO, Jaques Diouf, assinalou:
"A atual população mundial é de seis bilhões e vai chegar a nove bilhões em 2050. Para sustentar tantas pessoas, temos que dobrar a produção mundial de cereais."
Como garantir a segurança alimentar é o tópico mais discutido pela comunidade internacional hoje. A maioria dos participantes da conferência concordou que os fatores da alta dos preços alimentares incluem tanto a escassez do estoque global de cereais e a diminuição da produção em países produtores principais quanto a baixa do dólar, que levou à transferência dos capitais especulativos ao negócio de produtos agrícolas, além do aumento dos preços de energia.
Representantes de alguns países e organizações internacionais mencionaram que o desenvolvimento acelerado de economias emergentes como China e Índia impulsionou sua demanda interna por comida, o que resultou na atual alta dos preços no mundo. O representante da Índia e ministro da Agricultura do país, Sharad Pawar, repudiou o argumento:
"Senhor presidente, muito está sendo dito a respeito do impacto do consumo mais alto nas economias emergentes sobre os preços de alimentos no mundo. Os dados da FAO mostram claramente que os recentes preços das mercadorias não se originaram nessas economias emergentes. Também parece que a demanda adicional por milho e óleo de colza para produção de etanol e biodiesel, assim como os custos altos, em particular os preços de energia, são responsáveis pela maior parte do impacto sobre os preços."
O ministro chinês da Agricultura, Sun Zhengcai, que representa o governo da China na conferência, afirmou:
"Que todas as pessoas gozem da segurança alimentícia é um direito humano básico. O aumento racional do nível do consumo alimentício é o desejo comum e o direito legal do povo dos países em desenvolvimento e um sinal importante do desenvolvimento e do progresso do mundo. Atribuir o aumento da demanda por comida e a alta dos preços ao desenvolvimento desses países ou a determinada política de certo país não corresponde aos fatos nem constitui uma atitude construtiva."
Sobre os meios para enfrentar os desafios atuais, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse:
"Primeiro, devemos melhorar o acesso à alimentação da população vulnerável e tomar medidas imediatas para aumentar a disponibilidade de alimentos em suas comunidades. Segundo, precisamos agir pela elasticidade de longo prazo e contribuir para a segurança global de alimentos."
Sun Zhengcai apresentou uma proposta de cinco pontos para intensificar a cooperação internacional neste setor:
"Primeiro, dar mais atenção à agricultura e à produção de cereais. Segundo, reforçar a cooperação internacional. Terceiro, orientar de forma científica o desenvolvimento de biocombustíveis, tendo como prioridade a segurança alimentar. Quarto, fortalecer a colaboração internacional em resposta às mudanças climáticas. Quinto, melhorar o ambiente do comércio dos produtos agrícolas."
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