O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, anunciou ontem (29) um pacote de medidas para enfrentar a crise global de alimentos. As decisões são resultado do encontro de alto nível da instituição que foi presidido pelo próprio secretário-geral e reuniu responsáveis de 27 órgãos subordinados.
O pacote foi divulgado em uma coletiva à imprensa em meio à reunião de dois dias. Na ocasião, Ban disse:
"Tomamos algumas decisões sérias, que incluem medidas de curto, médio e longo prazo."
A reunião da ONU acontece em um momento crucial. Nos últimos meses, tumultos causados pela crise de alimentos ocorreram em mais de dez países e regiões de África, Ásia e Caribe, ameaçando a estabilidade social destas regiões. Além disso, os preços de alimentos no mundo continuam subindo. Muitos países esperam da ONU uma solução para o problema. Segundo Ban, a organização considera que a tarefa mais urgente é salvar as pessoas da fome.
"A questão prioritária é oferecer comida às pessoas que têm fome. Para isso, a ONU pede que a comunidade internacional, e em especial os países desenvolvidos, proporcionem um total de US$ 755 milhões para assistência urgente."
Ele alertou que se as verbas não chegarem, pode ocorrer fome, desnutrição e agitações sociais imprevisíveis.
Sobre o apelo do secretário-geral da ONU, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que é o momento de tomar ações concretas:
"Segundo as estatísticas, mais de 100 milhões de pessoas no planeta se reduziram à pobreza nos últimos dois anos. A situação não foi causada por calamidades naturais, mas é uma catástrofe para essas pessoas. A comunidade internacional e os doadores devem responder ativamente ao pedido e levantar os US$ 755 milhões necessários ao Programa Mundial de Alimentos."
Quanto à suspensão e redução de exportação de alimentos por alguns países para garantir o abastecimento doméstico, Ban considera que os produtores devem fazer reajustes por meio de preços e políticas, em vez de limitar a exportação. Zoellick também assinalou que não é correto impor limitações às exportações de alimentos:
"Conclamamos esses países a levantarem as barreiras impostas à exportação de alimentos, porque a ação só levará a um novo aumento de preços e dificultará a solução do problema."
Além de medidas de curto prazo, a ONU também dá importância à elevação da produtividade agrícola de países subdesenvolvidos. A reunião decidiu oferecer suplementos agrícolas em um valor equivalente a US$ 1,7 bilhão para agricultores desses países. Além disso, o Banco Mundial vai aumentar os créditos para a África. Ban destacou que não se deve continuar com as medidas anteriores de dar assistências alimentar, mas é preciso encorajar os agricultores a produzir mais.
"Outra questão urgente é que devemos produzir alimentos para o futuro. Ao subirem os preços de alimentos, os agricultores de países em desenvolvimento reduziram sua produção, porque carecem de materiais e energia. Temos que fazer todos os esforços para estimulá-los a aumentar a produção e assegurar que não haja uma escassez de alimentos no próximo ano."
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, Jacques Diouf, achou muito oportuna a decisão:
"Pela via de produção e oferta, as medidas podem melhorar a situação atual. Os agricultores podem começar imediatamente sua produção após receber os materiais."
A ONU admitiu, ao mesmo tempo, que a crise atual tem razões profundas, como problemas políticos e estruturais. Além disso, outro fator importante é a distorção no comércio de produtos agrícolas. O secretário-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, considera que a crise pode ser uma força motriz para levar adiante as negociações da Rodada de Doha.
"Creio que as medidas propostas pelo secretário-geral da ONU vão não apenas elevar a produtividade de países membros da OMC, mas também injetar mais vigor político e força nas negociações."
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