A caligrafia chinesa não é apenas um instrumento prático que pertence ao cotidiano dos chineses, mas está integrado, juntamente com a pintura, numa das mais significativas expressões artísticas da história nacional.
Todos parecem apreciar e colecionar obras de caligrafia, dos imperadores aos cidadãos comuns. Ela é presença certa em pergaminhos, cartazes de lojas, monumentos, lápides e exposições de arte.
Hoje, assim como no passado, os calígrafos costumam ser, ao mesmo tempo, intelectuais e artistas.
Wang Xizhi, da dinastia Jin do Leste (317-420), foi considerado o "Rei da Caligrafia Chinesa". Escreveu uma de suas obras-primas quando estava com um grupo de amigos no Pavilhão das Orquídeas, um lugar cercado por montanhas, bosques e riachos. Para comemorar esse dia feliz, compôs um poema e o escreveu sobre um papel de seda. Foi uma obra tão perfeita que nem seu autor conseguiu reproduzir depois.
Há muitos contos populares sobre o mestre Wang. Dizem que ele começou a aprender a caligrafia aos cinco anos. Em apenas dois anos, tornou-se conhecido como um menino prodígio por seu surpreendente progresso caligráfico. Aos onze anos, leu o livro "Segredos do Pincel" e se exercitava dia e noite, conforme os métodos nele contidos. Wei, sua primeira professora e então famosa calígrafa, ao ver os caracteres do menino Wang Xizhi e compará-los com os próprios, ficou assombrada. "Seguramente encontrou a chave de escrever. Dei-me conta de que sua escritura já alcançou o nível dos adultos. E em pouco tempo, seus êxitos na arte da caligrafia superarão minha reputação". Wang não se entregou à placidez dos louvores de sua professora e praticava a arte com todo o fervor. Quando escrevia, concentrava-se tanto que se esquecia de dormir e de se alimentar.
Uma vez, à hora do almoço, seu colega de estudo levou-lhe pães e purê de alho, seu prato favorito. Wang escrevia, observava o modelo de escrita e seguia escrevendo. Apesar da insistência do colega, não interrompeu o trabalho e sequer levantou os olhos, como se não ouvisse nada. O prato, por fim, esfriou.
O colega buscou a ajuda da mãe de Wang. Quando esta chegou ao escritório de seu filho o encontrou comendo o pão molhado em tinta e com a boca toda manchada de negro. A mãe, sem poder conter-se, soltou uma risada. Sem perceber o que se passou, o filho disse: "Não há purê de alho mais saboroso que este!"
Com perseverante espírito e incansáveis estudos e práticas, Wang Xizhi chegou a ser um dos maiores mestres da caligrafia na história chinesa.
Os benefícios físicos e espirituais que aporta a caligrafia a quem a pratica são múltiplos. É uma boa forma de infundir paciência, disciplina e perseverança. Graças a estas qualidades, muitos calígrafos gozaram de uma vida longa. O exercício da caligrafia pode chegar inclusive a refinar a personalidade e mudar a forma de ver a vida. No Parque Beihai, um dos lugares mais prestigiosos de Beijing, todas as manhãs, um grupo de aficionados à caligrafia, cada um com um pincel de cerca de um metro de comprimento, molhado por água clara, escreve seus caracteres sobre o chão. Este exercício não só lhes proporciona satisfação espiritual como também uma boa condição física.
Por todos estes motivos, os estudiosos chineses têm atribuído sempre uma grande importância à caligrafia. Em nosso país, a caligrafia é uma das mais importantes disciplinas das escolas primárias, secundárias e de algumas escolas superiores, e que passou a fazer parte das culturas do Japão, Coréia e alguns outros países do Sudeste Asiático, que desenvolveram suas próprias escolas e estilos.