Semana passada (25 de julho) a IHRSA Association (International Health, Racquet & Sportsclub) divulgou que o Brasil só perde para os EUA em número de academias, e que esse mercado está em franca expansão. A cultura da atividade física é muito forte em nosso país. O tema "qualidade de vida", que inclui também dicas de saúde e boa alimentação, é intensamente abordado pela imprensa brasileira e está entre os preferidos do público.

Aqui perto da rádio tem uma academia bem grande e equipada, com aulas de dança, yoga, pilates e piscina. Muito bacana, ainda mais para o preço: 1600 yuans o plano anual, cerca de 420 reais. Bom, né? E olha que esse valor é 90% mais caro do que paguei quando cheguei aqui um ano atrás.

Mas uma coisa me assusta. A maior parte dos chineses que vejo malhando lá não tem a menor ideia do que está fazendo. Escolhem os aparelhos aleatoriamente, sem nenhum critério, noção de pesos, repetições, e, pior! Sem cuidado com os movimentos. Por motivos óbvios, não tenho nenhuma foto pra mostrar, mas os professores de educação física ficariam perplexos! Hoje uma mãe aparentando 30 anos e sua filha, suponho, de uns 10 anos, saltavam de aparelho em aparelho como se estivessem num parque de diversões. As pessoas a que me refiro são, na maioria, mulheres, crianças e idosos.

Eu tenho alguma noção, fazia musculação do Brasil e até hoje uso a série da última academia que frequentei em São Paulo. Sei que nesse assunto não se pode "inventar". No Brasil as academias têm instrutores que acompanham e auxiliam os alunos, corrigem seus movimentos, postura, passam uma sequência de exercícios e a mudam de tempos em tempos. A academia onde me matriculei aqui na China não tem a figura do instrutor, mas oferece à parte o serviço de personal trainer. Se eu fosse um deles, em respeito à minha profissão, intercederia, ofereceria ajuda, diria "não faça isso para não machucar a coluna", "não desça tanto para não desgastar os joelhos", "com essa postura você não vai conseguir resultado algum".

Isso mostra que a musculação é algo nada popular por aqui. Questionada por mim, a colega Silvia, que trabalha no departamento de português da CRI, disse que os meios de comunicação ignoram o assunto e que ela, particularmente, não praticaria o esporte por achá-lo "masculino demais". Isso não significa, porém, que os chineses não se interessem por atividades físicas. Eles fazem tai chi chuan nos pátios dos condomínios, andam de bicicleta, caminham, jogam badminton e adoram dançar. Toda vez que vejo velhinhas saltando da bicicleta em movimento fico passada! Minha avó, tadinha, aos 80 anos mal anda sozinha. Os chineses têm força e muita disposição, mas vão acabar se machucando se fizerem da musculação uma prática habitual mesmo sem a orientação de um especialista. Difícil imaginar a sabedoria milenar com problemas nas articulações.