Beijing é hoje uma super metrópole, repleta de prédios modernos, carros sofisticados, consumidores de artigos luxo, restaurantes e atividades culturais pra todos os gostos e bolsos, tanto quanto outras grandes cidades do mundo. Mas nem toda essa força, esse vertiginoso crescimento econômico chinês, é capaz de obscurecer o que este país tem de mais especial: a simplicidade de sua gente, os segredos, as peculiaridades e histórias de um passado remoto.
A 120 quilômetros do centro de Beijing é possível ir de encontro a quase mil anos de história. Na vila de Gubeikou vivem cerca de 1100 pessoas divididas em 460 famílias, a maioria da etnia manchu. O nome do vilarejo significa "Boca antiga e do norte', uma alusão a um ponto de travessia muito estreito aberto no meio de uma montanha para a passagem da comitiva do imperador Qianlong (dinastia Qing, 1735 a 1795) rumo à Hebei. Era se refugiava lá durante o escaldante verão de Beijing. Aquela passagem tinha também importância geográfica e militar estratégica, pois servia de ponto de escoamento e de batalhas.
As torres nas quais os soldados permaneciam em prontidão se localizavam nos milhares de quilômetros de Grande Muralha que a vila de Gubeikou ainda hoje tem o privilégio de abrigar. Trata-se do trecho de Panlongshan, cujo significado pitoresco é Montanha do Dragão Enroscado, um dos mais rústicos da Grande Muralha da China. É possível ver ruínas da construção por toda a parte. Quinze minutos de carro separam a aldeia de Gubeikou do ponto mais acessível aos turistas. Uma caminhada de 20 minutos e a imagem mais forte da China na mente de um estrangeiro se revela a olhos. Não há como não se emocionar.
Ir, por exemplo, a Badaling, o ponto de visita mais famoso e bem estruturado da Grande Muralha, é suficiente para cair em perplexidade. Mesmo "modernizado", tendo sido reformado e com um confortável teleférico, trata-se, afinal, da Grande Muralha. Mas ter a honra de observar o monumento próximo do que ele foi na realidade, mesmo em se tratando de ruínas, trechos de acesso perigoso ou inacessíveis, é ainda mais indescritível.
Para recapitular, a Grande Muralha da China começou a ser construída em 220 a.C, terminou em 1677 d.C e mediu originalmente 8.851 quilômetros. O intuito inicial dos imperadores das diversas dinastias era defender o país dos invasores mongóis. Mas os japoneses também investiram contra a China. A região foi palco em 1933 de uma das batalhas da guerra contra os invasores japoneses. Essa e outras histórias, bem como a arquitetura, hábitos de cultivo e caça dos aldeões, estão documentadas no simples, mas charmoso, museu de Gubeikou.
Aos interessados numa viagem cultural ou de aventura, Gubeikou é o lugar. As políticas da China de reforma e abertura ainda hoje transformam o vilarejo e incluem um número cada vez maior de moradores no processo de crescimento que vem beneficiando a milhões de chineses. Parte deles fez de suas casas pousadas, onde os turistas que pouco a pouco descobrem o lugar podem saborear a culinária típica das minorias étnicas e, até, participar do preparo dos pratos. Alem de visitar os templos budistas, as tradicionais casas com pátio e vivenciar o dia-a-dia da gente simples de Gubeikou.