Quem acha que a China é um grande 1,99 em si pode estar muito enganado. Com as maiores grifes do mundo instaladas em grandes municípios centrais, é possível que o preço de lembrancinhas chegue a muitos, muitos dígitos. Assim, Beijing seria mesmo uma Nova York – se não fosse pelo mercado Dongjiao, que confere à capital uma ideia bem brasileira a preços super acessíveis. Com 1,5 mil metros quadrados e duas mil lojas, o Dongjiao é o maior 1,99 do mundo.

Explica-se: lá se compra de tudo. De lembrancinhas, como artesanato e brinquedos infantis, a roupas, alimentos e móveis. Transitar entre as 50 mil pessoas que passam pelo Dongjiao diariamente pode ser difícil. Ainda mais com os 10 mil carros que, todos os dias, enchem as ruas internas do local. Em função dos preços baixos e da quantidade e diversidade de itens, as lojas de atacado abastecem hotéis, restaurantes e shoppings da cidade – daqui e do resto do mundo, eu arriscaria dizer, tendo em mente as lojinhas de bairro Porto-Alegrenses e os supermercados da vida.

Os números astrônomicos só seriam mais assustadores se não estivéssemos falando de China, onde tudo é macro por definição. E um grande país com uma imensa população só poderia guardar dentro de um lugar como esse a sensação de se ser, na melhor das hipóteses, muito pequeno. O Dongjiao fica bem perto da minha casa e, na primeira vez que visitei o mercado, achei que fosse desaparecer entre tantos materiais escolares, toalhas e caixas de produtos de limpeza. Foi só fazer uma curva errada para me perder; saí da área de vestuário para entrar na de cama e mesa, que me fez sumir no meio de tantas cortinas, lençóis e cobertores. Ali, é possível reformar a casa sob encomenda, em cores e dimensões que a gente desejar. E por quantias muito razoáveis – depois de, claro, uma clássica negociação. Aproveitei que estava me mudando para um novo apartamento e levei um colchão por 200 yuans (R$ 50), um moletom por 50 yuans (R$ 12,5) e uma mesinha de apoio para a cozinha por 60 yuans (R$ 15). Coisa pouca porque era só para honrar a nova vizinhança.

Diferentemente do famoso Mercado das Sedas, ali não há trabalhadores falando a linguagem universal do comércio. No Dongjiao, o idioma oficial é o mandarim, visto que os compradores mais assíduos são mesmo as pessoas jurídicas. O mercadão movimenta 3 bilhões de yuans (quase R$ 1 bilhão) anuais vendendo para aqueles que vão revender os produtos ou usá-los como enfeite durante a venda de serviços. Este é o grande público.

Eu, que não tenho nada de negócios aqui a não ser uma cozinha timidamente utilizada, passo lá semanalmente para reestocar minha geladeira. Além de os vegetais, as frutas e os grãos serem muito mais baratos do que nos supermercados tradicionais, o Dongjiao me abastece de produtos "internacionais" mais difíceis de comprar, como queijo, macarrão e temperos, a preços mais que competitivos. Meio quilo de queijo parmesão por 40 yuans (R$ 10), um quilo de macarrão por 6 yuans (R$ 1,25); meio quilo de café em pó por 30 yuans (R$ 7,5). E está feita a minha janta!

Uma parte da construção é separada só para hortifrutigranjeiros, o açougue e a peixaria, que, como vocês podem imaginar, tem absolutamente de tudo – e isso não é só figura de linguagem. Havia caranguejo e siri que nunca tinha visto na minha vida (acho que a vida marinha de Mariluz-RS é bem mais modesta...). No prédio em frente, um maravilhoso display de doces e bebidas (leia-se: vinho e chocolate!). Até chegar ali, a gente passa pela área de brinquedos infantis e materiais escolares, utensílios domésticos e café. Sim, o Dongjiao tem uma seção destinada apenas à bebida, com máquinas profissionais, grãos, moedores e todos os formatos imagináveis de xícaras.

E, ao que me parece, a venda do mercado voltada ao pequeno empreendedor é mesmo uma visão que está crescendo. Em duas semanas que estive lá, vi lojas sendo abertas de máquinas de pão, macarrão, fogões industriais e lavadoras. Tem uma seção também só com placas de informações para hotéis (como "caixa", "lavabo", "recepção"); uma que deve atender a muitos bancos (com aqueles separadores de fila, em cordas e elásticos, sabe?) e shoppings, com lixeiros e, o mais importante aqui, cinzeiros coletivos.

É difícil dizer quantas horas são necessárias para cruzar o mercado. Ele é cortado por um viaduto e continua do outro lado da rua, oferecendo material de construção. Acabei comprando lá uma série de placas de ferro e um tampão de vidro que, depois de muito trabalho manual, viraram minha nova mesa do computador. Gastei, no total, 80 yuans, que se traduz em R$ 20.

Abaixo vocês podem conferir umas fotos que fiz quando levei minha colega de CRI Débora ao Dongjiao.

Mercado Dongjiao (东郊市场)

End: Distrito Chaoyang, Xidawanglu, 13 (朝阳区西大望路甲12号)

Tel: 010-51288353

Aberto das 8h às 20h