Quando falamos do Brasil, só lembramos do futebol. Mas, sendo uma potência esportiva na América Latina, o futebol não é o único símbolo do país. A delegação brasileira, que ganhou 5 medalhas de ouro, 2 de prata e 3 de bronze nas Olimpíadas de Atenas, Grécia, deseja obter resultados melhores em Beijing. Recentemente, o nosso repórter entrevistou o embaixador brasileiro na China, Luiz Augusto de Castro Neves. Ouça a agora a reportagem.
Castro Neves mora em Beijing há 4 anos, desde que assumiu o posto de embaixador na China em 2004, e se encanta com a transformação diária que vê na cidade. Estas transformações ficaram ainda mais evidentes depois que Beijing foi escolhida para sediar as Olimpíadas de verão de 2008. Ele disse:
"O que mais impressiona são precisamente as transformações, a Pequim que eu encontrei ao chegar em outubro de 2004 não é mais a Pequim que eu estou vendo hoje em julho de 2008, as transformações da cidade, as obras, as construções, os melhoramentos são visíveis a cada mês na verdade. Cada vez que eu vou ao Brasil de férias ao voltar eu já encontro diferenças na cidade de Pequim. Isso é realmente algo fantástico."
O embaixador Castro Neves considera que a realização das Olimpíadas constitui um grande desafio para o país organizador porque este tem de preparar bem toda a infra-estrutura dentro de um prazo curto, especialmente a construção dos estádios e ginásios. Sendo um país em desenvolvimento, a capacidade e a velocidade mostradas pela China nos preparativos surpreenderam o mundo.
"É um evento que obviamente coloca sempre à prova a capacidade de seus organizadores, mas, pelo que eu pude ver de preparativos dos últimos anos que estou morando aqui em Pequim, eu tenho a plena confiança de que a capacidade de organização dos chineses será muito bem sucedida, e obviamente estamos todos muito impressionados com o fato de que está tudo pronto para as Olimpíadas. O aspecto que mais nos impressiona foi a capacidade chinesa de construir toda uma infra-estrutura monumental para abrigar os jogos olímpicos, desde a Vila Olímpica, o Ninho de Pássaro, o Cubo d'Água, como também o Terminal 3 do Aeroporto da Capital, a nova linha de trem ligando o Aeroporto à estação de Dongzhimen... enfim, tudo isso são percepções muito claras. Mas, também, verifica-se por parte da população, em particular por parte dos pequineses."
O embaixador Castro Neves ainda lembrou que, para receber convidados de todos os países, muitas cidades chinesas abriram cursos de línguas estrangeiras, que tiveram grande procura. O embaixador acredita que, graças ao seu grande entusiasmo, os chineses podem ser guias qualificados após a abertura das Olimpíadas.
O Rio de Janeiro já apresentou sua candidatura para sediar as Olimpíadas de verão de 2016. O embaixador Castro Neves acha que os preparativos das Olimpíadas de Beijing constituem um bom exemplo para a cidade brasileira.
"O Rio de Janeiro lançou, ou está lançando, sua candidatura para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Certamente, o exemplo de Pequim será muito importante para inspirar os preparativos do Rio de Janeiro, caso venha a ser escolhido como sede dos jogos de 2016."
"Um Mundo, Um Sonho" é o slogan dos Jogos Olímpicos de Beijing. Quanto a isso, o senhor Neves tem sua compreensão:
"Um mundo um sonho significa que as olimpíadas são através do esporte um instrumento para promover a união entre os povos, para promover a amizade, para promover o melhor entendimento mútuo e para promover também uma maior abertura dos países uns em relação aos outros. O que nós verificamos, por exemplo, ao longo dos últimos anos tem sido uma abertura crescente da China e a sua maior integração ao resto do mundo, o resto do mundo que tem suas características próprias, cada povo tem suas características, mas que cada vez mais temos valores básicos comuns, e nós fazemos votos para que as Olimpíadas sirvam para uma maior integração da China no restante do mundo, para que o mundo possa ter efetivamente um sonho comum."
O embaixador brasileiro disse ao nosso repórter que, durante sua estadia em Beijing, ele sente que o país está cada vez mais aberto e que os estrangeiros têm um maior conhecimento da China. Ele espera que as Olimpíadas de 2008 possam aprofundar esta tendência, para que o mundo conheça uma China verdadeira.
Os Jogos Olímpicos estão chegando e a atmosfera deste evento fica cada dia maior, não só na China, como também no Brasil. O embaixador, que voltou recentemente ao Brasil, ficou surpreendido ao ver que as mídias brasileiras já começaram a usar grande espaço para as Olimpíadas, que não só se limitam ao evento, como também vários aspectos sobre o país. Os atletas também estão bem preparados para as disputas e desejam ganhar mais medalhas de ouro do que em Atenas.
"Eu particularmente espero o melhor desempenho possível. Evidentemente, tem havido uma grande mobilização por parte do Brasil e há, por parte dos atletas brasileiros, uma firme disposição de conquistar mais medalhas aqui na China do que já conquistou no passado."
O embaixador Castro Neves disse ao nosso repórter que a delegação do Brasil tem vantagem em várias modalidades como vôlei, vôlei de praia, ginástica, vela e hipismo. Quanto à seleção olímpica de futebol, que ainda não conquistou um título olímpico, o diplomata brasileiro disse:
"Por razões históricas a seleção olímpica brasileira nunca foi a primeira seleção do Brasil. No passado só podiam ser jogadores amadores. Posteriormente os critérios se tornaram mais flexíveis e hoje permitem a utilização de jogadores profissionais até uma certa idade. Isso faz com que o nível de representação do Brasil possa, em tese, melhorar e a seleção olímpica brasileira possa estar mais à altura do que é o verdadeiro futebol brasileiro. Vamos torcer para que a seleção olímpica brasileira seja a melhor possível e que ela tenha um grande desempenho nas olimpíadas de Pequim."
Para os fãs do futebol, nesta seleção olímpica brasileira, poderemos ver estrelas como Kaká, Ronaldinho e Robinho.
As Olimpíadas de Melbourne da Austrália foram o primeiro contato entre o embaixador e as Olimpíadas. Na altura, ele só podia ouvir as notícias sobre as disputas através do rádio de ondas curtas.
"A primeira olimpíada de que eu tenho notícia foi a de Melbourne, na Austrália, em 1952. Eu mal me lembro dela porque era ainda muito pequeno. Foi a primeira vez na minha vida em que eu ouvi falar de olimpíadas. Eu acompanhava pelo rádio de ondas curtas os jogos de basquete de Melbourne. A equipe brasileira não ganhou medalha mas ficou em quarto lugar, ou algo assim, e foi derrotada na semifinal pela equipe norte-americana que naquela época era praticamente invencível. Essa é a lembrança mais remota que eu tenho dos jogos olímpicos."
Castro Neves disse que, em comparação com o passado, as Olimpíadas agora são um grande palco. E as Olimpíadas de Beijing serão o primeiro evento do gênero em que ele participa pessoalmente. Por isso, as expectativas com relação a esta edição são maiores. O embaixador afirmou que a cerimônia de abertura deixará uma impressão profunda.
"Nós confiamos, em primeiro lugar, que a capacidade chinesa de realizar grandes espetáculos é insuperável. Estamos na expectativa de assistir a um espetáculo maravilhoso. Por outro lado, a China é um país com uma diversidade cultural e, sobretudo com uma enorme sedimentação cultural que decorre de 5 mil anos de História, de modo que estamos todos curiosos para saber como é que os organizadores chineses vão compatibilizar 5 mil anos de História e cultura da China com os ideais olímpicos, com aquilo que a gente imagina que deva ser a abertura de um grande evento como é a Olimpíada."
No final da entrevista, o embaixador Castro Neves usou o chinês para manifestar seus bons votos e esperança pelas Olimpíadas de Beijing
"Espero que com os Jogos Olímpicos, a China se torne mais aberta para o mundo e que o mundo seja mais aberto para a China."
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