Ang Lee, diretor de origem da província de Taiwan, inspirou mais uma vez todos os chineses na noite do 78º Oscar. Há cinco anos, venceu com melhor filme estrangeiro por O Tigre e o Dragão. Desta vez, levou a estatueta de Melhor Diretor por O Segredo de Brokeback Mountain, fruto de seus oito anos de trabalho.
O filme, vencedor ainda em outras duas categorias - Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Trilha Sonora Original -, conta a história de amor entre dois caubóis em Wyoming, nos Estados Unidos. A adaptação, qualificada como "uma epopéia do homossexualismo" por algumas mídias ocidentais, gerou também grande polêmica desde que foi para o circuito. Na visão do diretor, no entanto, sua obra pretende interpretar a força do amor, tema que não se deve ser limitado entre apenas homens e mulheres.
"Queria revelar nos meus filmes a natureza humana, um tema complicadíssimo, mas que pode ser interpretado de diferentes ângulos. Eu particularmente prefiro explorar o tema através de dramas".
Acima de todas as críticas, Ang Lee se firmou, sem dúvida, como o mais importante diretor cinematográfico chinês. Nascido e crescido num ambiente impregnado na tradição cultural chinesa em Taiwan, Lee estudou dramatologia e direção na Universidade de Nova Iorque, onde iniciou simultaneamente sua pesquisa em juntar a cultura ocidental e oriental na produção cinematográfica. Sua tentativa saiu bem sucedida no seu primeiro filme de artes marciais O Tigre e o Dragão, com o qual o cineasta exibe ao público ocidental, de uma forma espetacular, o charme da cultura chinesa. O professor Hu Ke, especializado na cinematografia, da Universidade de Comunicações da China, opinou:
"O Tigre e o Dragão é sim um filme de ação chinês, mas contém os conceitos tradicionais. Ang Lee é obviamente um talento capaz de tornar a cultura oriental acessível à audiência ocidental. Foi com isso que venceu".
Na história do Oscar, o fotógrafo Huang Zongzhan (James Wong Howe) foi o primeiro chinês nacionalizado americano premiado pela Academia. Ele levou em 1955 o Oscar de melhor fotografia por A Rosa Tatuada.
O entusiasmo dos cineastas chineses pelo Oscar cresceu quando o filme O Último Imperador levou nove prêmios, entre os quais o de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia, etc. Os chineses começaram a engrossar a fila de disputa, com um contingente capitaneado por Zhang Yimou e Chen Kaige, ambos representando o renascimento do cinema chinês.
Neste caminho rumo ao Oscar, Zhang Yimou deve ser o mais esforçado entre toda a equipe chamada "quinta geração dos diretores chineses", que se formou nos anos 80 do século passado.
Com Sorgo Vermelho, uma produção autobiográfica sobre a China dos anos 20, tendo como pano de fundo a invasão japonesa, Yimou obteve o seu passaporte para o cinema internacional. O seu primeiro longa foi premiado como melhor filme no Festival de Berlim de 1988. Desde então, o diretor chinês tem se manifestado firme e decidido no percurso do concurso. Recebeu em 1991 a indicação ao melhor filme estrangeiro do Oscar por Amor e Sedução, primeiro cinema chinês que entrou na Categoria. Apesar de perder para Journey of Hope, da Suíça, o filme abriu a porta do Oscar para Yimou, que entregou logo depois ao júri da Academia de Hollywood Lanternas Vermelhas (1991), Herói (2002) e A Casa das Adagas Voadoras (2004). No entanto, nenhum lhe concedeu a chance de voltar com troféu.
O mesmo se sucedeu com Chen Kaige, colega de Yimou, que recebeu duas indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Fotografia por Adeus Minha Concubina, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.
As produções cinematográficas chinesas, contudo, parecem mesmo ter conquistado o seu espaço no mundo ao longo dos últimos vintes anos. Pelo menos é que diz o insuspeito Jean Michel Frodon, crítico de cinema do Le Monde.
"Um número cada vez maior de produções chinesas vem ingressando no circuito europeu desde os anos 80 do século passado. Elas nos permitem conhecer outros modos de vida, pontos de vista, músicas e estética, contribuindo também como o cinema e com a cultura mundial".
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