Dirigentes africanos e o presidente francês, Jacques Chirac, abriram hoje os trabalhos da XXIII cimeira África-França, no Mali, com um consenso sobre a necessidade de criar condições para que os jovens africanos possam permanecer nos seus países.
Os participantes na cimeira, que se realiza em Bamako, capital do Mali, deverão discutir os conflitos em curso, nomeadamente a guerra civil em Darfur, oeste do Sudão, e a crise político-militar na Costa do Marfim.
A cimeira tem como tema oficial "a juventude africana, sua vitalidade, criatividade, suas aspirações", segundo os organizadores do Mali.
Pela primeira vez na história destas cimeiras, deverão estar representados todos os 53 países africanos, referiram os organizadores.
Contudo, o presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, está ainda hoje ausente do encontro.
Cerca de 20 chefes de Estado participam no encontro, entre os quais Thabo Mbeki, presidente da África do Sul, "peso-pesado" económico do continente.
O gabonês Omar Bongo Ondimba, decano dos presidentes africanos, no poder desde 1967 e que acaba de ser reeleito, em eleições denunciadas pela oposição, também se deslocou à cimeira.
O presidente Chirac e o seu homólogo do Mali, Amadu Toumani Touré, fizeram o mesmo diagnóstico geral sobre a necessidade de combater a pobreza em África, para permitir nomeadamente aos jovens -mais de 60 por cento de africanos têm menos de 25 anos - permanecerem nos seus países e não emigrar.
A urgência para a África é "vencer a pobreza, permitir a eclosão de uma classe média e empregar da melhor forma as elites", disse Chirac.
"A dificuldade de trabalhar e de construir a sua vida no seu país obriga milhares de africanos a emigrar (Ó)", disse, apelando a africanos e europeus para que "desmantelem as redes de emigração clandestinas".
O presidente do Mali, Amadu Toumani Touré, sugeriu uma "conferência entre os países da Europa e de África".
"É preciso reter os jovens aqui", disse o chefe de Estado do Mali, país de emigração, com uma diáspora estimada em quatro milhões de pessoas.
Os dois chefes de Estado abordarão durante a cimeira os graves problemas que continuam a impedir o desenvolvimento de África, nomeadamente os conflitos armados e a SIDA.
O continente, com 900 milhões de habitantes, continua mergulhado na pobreza - 320 milhões de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia, segundo a ONU.
Paralelamente, o continente está fortemente atingido pela SIDA. Na África subsaariana vivem mais de 60 por cento de pessoas com o vírus da SIDA (VIH), ou seja, 25,8 milhões de seropositivos.
Amadou Toumani Touré e Jacques Chirac apelaram para que a voz dos países pobres de África seja ouvida nas negociações comerciais, numa referência à difícil reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) que se realiza dentro de 10 dias em Hong Kong.
Chirac reafirmou que a França continua a ser um "defensor incansável de África", numa altura em que a política de Paris é contestada em algumas das suas ex-colónias, como no Togo e na Costa do Marfim.
O chefe de Estado reafirmou a vontade de Paris de adaptar o seu "dispositivo militar" - cinco bases e mais de 10.000 soldados actualmente destacados no continente, dos quais 4.000 na Costa do Marfim - para apoiar os esforços da União Africana de criar uma força de manutenção de paz até 2010.
Os participantes na cimeira ovacionaram a nova presidente liberiana, Ellen Johnson Sirleaf, primeira mulher a dirigir um país em Africa, e símbolo de esperança de um país que sofreu 14 anos de guerra civil.
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