Segundo um jornal de Macau informou, a Geocapital, liderada por Stanley Ho e Ferro Rodrigues, foi o parceiro escolhido pela TAP na operação de compra de 20% do capital da Varig. O acordo deve ter aberto caminho para o reforço da posição de Stanley Ho na Air Macau
A assembleia de credores da transportadora aérea brasileira aprovou ontem a proposta apresentada pela TAP, que escolheu Stanley Ho como parceiro na operação, para a aquisição de 95% das acções da VarigLog (transporte de cargas) e 90% das acções da Varig Engenharia e Manutenção (VEM), a troco do pagamento de 62 milhões de dólares (cerca de 530 milhões de patacas).
A Geocapital, que integra como accionista a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), maioritariamente detida por Stanley Ho, e o empresário Ferro Ribeiro foi constituída para avançar com investimentos nos sectores básicos da economia de países de língua portuguesa.
O investidor escolhido pela TAP como parceiro na definição do modelo de financiamento desta aquisição era, até agora, um segredo bem guardado pelo administrador-delegado da TAP, Fernando Pinto, e respectiva equipa de gestão, num negócio que, segundo o "Diário Económico", deverá envolver como contrapartida o reforço da posição de Stanley Ho na Air Macau.
A SEAP -Serviços, Administração e Participações, que integra a TAP, detém uma participação de 20% na estrutura accionista da Air Macau, mas que é considerada como não estratégica para a afirmação da empresa portuguesa no seio da Star Alliance. A Air Macau tem ainda como principais accionistas a China National Aviation Corporation (51%) e a STDM (14%), de Stanley Ho.
A TAP já constituiu uma empresa no Brasil, a Aero-LB (Luso-Brasileira) Investimentos S.A, para receber financiamentos oficiais e assumir o controlo das subsidiárias da Varig, segundo a imprensa brasileira. A nova empresa integra ainda a Geocapital e um investidor brasileiro, cujo nome não foi divulgado.
O objectivo foi contornar a restrição da legislação brasileira, que determina uma participação máxima de 20% de capital estrangeiro em empresas de aviação no Brasil, no caso as subsidiárias da Varig.
Dos 62 milhões de dólares envolvidos na aquisição, 42 milhões de dólares serão financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES), a instituição de fomento do Governo brasileiro, e 20 milhões de dólares pela Geocapital.
A TAP não entrará com recursos, mas será dará a "garantia final" da operação, segundo o presidente da estatal portuguesa Fernando Pinto.
"A TAP tem uma carta de fiança e a obrigatoriedade de, em seis meses, adquirir parte do investimento que está a ser feito na VarigLog e na VEM", disse Pinto ao jornal Folha de São Paulo.
A Varig terá até 12 de Dezembro para comunicar à TAP se conseguiu valor maior para a venda das duas subsidiárias, sendo que a empresa portuguesa terá preferência.
Se a venda não for feita para a TAP, a empresa portuguesa terá direito a receber uma multa de 20 por cento do valor total do negócio, ou seja, 12,4 milhões de dólares, avançou Pinto.
MARATONA NEGOCIAL. Depois de um dia inteiro de negociações, no Rio de Janeiro, a maioria dos credores da Varig aprovou a proposta da TAP, apesar das ameaças da classe de trabalhadores de bloquear o projecto da estatal portuguesa.
A reunião terminou com a aprovação de 99,67% dos credores presentes - trabalhadores, credores com garantias e credores sem garantias - mas chegou a ser interrompida por duas vezes. Os trabalhadores chegaram mesmo a deslocar-se à sede do BNDES para conhecer melhor os pormenores da oferta da TAP.
De acordo com o presidente da Varig, os 62 milhões de dólares seriam depositados ainda ontem numa conta bancária especial para o pagamento das empresas de leasing dos Estados Unidos. As empresas norte-americanas ameaçavam arrestar de 20 a 40 aviões da companhia brasileira, caso não recebessem ontem as suas dívidas.
"Entre as seis propostas apresentadas (para recuperação da Varig), a da TAP foi escolhida porque apresentava a intenção de manter a integridade do grupo, além disso, os valores a serem pagos eram superiores ao das demais", salientou Carneiro da Cunha, presidente da Varig, em declarações publicadas na imprensa brasileira.
A Varig enfrenta actualmente a mais grave crise financeira de sua história, com dívidas totais que ascendem a cerca de seis mil milhões de reais (cerca de 22 mil milhões de patacas).
Do total das dívidas, 64 por cento respeitam a compromissos com empresas estatais brasileiras, nomeadamente a Infraero (controlo de aeroportos), BR Distribuidora (combustíveis) e o Banco do Brasil.
A Varig deve ainda 1,8 mil milhões de reais (cerca de 6.667 milhões de patacas) ao fundo de pensões dos funcionários da empresa, o Aerus.
No dia 22 de Junho, o Tribunal do Rio de Janeiro aceitou o pedido de "recuperação judicial" feito pela Varig para obter um prazo de 180 dias para negociar o pagamento das dívidas.
Antes do pedido de "recuperação judicial", medida prevista pela legislação brasileira, a TAP havia assinado um "memorando de entendimento" com vista à capitalização da Varig.
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