Às 19 horas e 6 minutos do dia 17, Ba Jin faleceu no hospital Donghua de Shanghai. O presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Jia Qinglin, o secretário do Comitê Municipal do PCCh em Shanghai, Chen Liangyu, a integrante do Conselho de Estado do País, Chen Zhili, bem como cerca de mil habitantes de Shanghai compareceram nesta última segunda-feira (24) à sua cerimônia fúnebre.
Quem foi Ba Jin? O que ele fez? Por que os chineses o respeitam tanto? No programa de hoje, vamos conhecê-lo.
Meu coração está sempre flutuando num mar escuro
Se não fosse orientado pelo farol
Iria afundar eternamente no mar
Mas neste mundo
A luz nunca será apagada
---Ba Jin
Ba Jin, pseudônimo de Li Yaotang, nasceu no dia 25 de novembro de 1903 numa grande família rica de Chengdu, capital da província de Sichuan, no Sudoeste da China. Tinha mais de 30 irmãos e 20 parentes. É neste ambiente que cresceu e 27 anos depois escreveu, com base na própria vida, a mais clássica das novelas chinesas: Família.
Entrou na Escola de Línguas Estrangeiras de Chengdu em 1920. Foi estudar na França em 1927 e completou seu primeiro romance "Destruição", usando o nome Ba Jin em memória de Baranpo, um de seus companheiros na França que se suicidou porque detestava o mundo e as bases sobre as que se assentava. A palavra "Jin" foi proposta por seu companheiro russo, estudante de filosofia.
Desde seu primeiro artigo publicado em 1921, escreveu e traduziu inúmeras obras num total de 13 milhões de palavras, incluindo novelas, histórias curtas, prosas e ensaios.
"Como não sou bom falante, devo utilizar a escritura para expressar meus sentimentos, amor e ódio, e assim, posso sacar o fogo que há em meu interior", afirmava. "Nunca, nem por um momento, deixarei minha caneta. É uma espécie de fogo dentro de mim".
A Trilogia de Corrente: "Família", "Primavera" e "Outono" são os principais trabalhos de Ba Jin. O romance "Família", baseado em sua própria vida, reflete a história de uma grande família feudal chinesa ao retratar o colapso do regime feudal e os novos pensamentos que permeavam os jovens revolucionários. Ba Jin denunciava os males feudais enquanto exultava os jovens a lutarem. A obra encorajou várias gerações de jovens chineses e foi adaptada para o cinema nos anos 50, tornando-se um grande sucesso.
As obras de Ba Jin refletem seu amor ao povo
Além de escritor, Ba Jin ainda era editor e redator. Atravessou os anos 30 trabalhando na Editora de Cultura e Vida de Shanghai. Quando foi desencadeada a Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa em 1937, Ba Jin dedicou-se totalmente às atividades culturais. Compilou a revista revolucionária "Grito", o jornal "Diário para Salvar Nação Chinesa" e publicou neste período uma série de artigos tais como Trilogia de Guerra Anti-Japonesa e a coleção de prosas "Dragão, Tigre e Cão".
Depois da fundação da Nova China, Ba Jin foi eleito deputado na Quinta Assembléia Popular Nacional, membro do Comitê Permanente e vice-presidente na Sexta, Sétima e Oitava Comissão Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.
Em julho de 1999, um dos asteróides encontrados por cientistas chineses em 1997 foi batizado com seu nome. Foi presidente da Associação de Escritores Chineses e em 2003, o Conselho de Estado o condecorou com o título de "Escritor do Povo". Em 2001, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura.
O Museu da Literatura Moderna da China em Beijing, inaugurado em março de 1985 que conserva o maior acervo de literatura do mundo, foi construído por sua indicação. "Sem Ba Jin, não teríamos o Museu", afirmou Tang Wenyi, diretor do departamento de intercâmbios do Museu. Desde 1982, Ba Jin doou 250 mil yuans e mais de sete mil livros, fotos e cartas para o mesmo. "Estabelecer um museu como este é mais importante do que eu produzir dez livros", escreveu em suas Memórias. O diretor do
Museu Shu Yi recordou:
Ba Jin disse dizia a literatura contemporânea refletia o virtuoso espírito chinês. "As boas obras nos apoiaram, encorajaram e educaram, nos tornando mais bondosos e puros. Ele sentia a força de sua literatura e queria legá-la às pessoas".
Em 1979, os médicos detectaram alguns problemas cardíacos.Em 1983, foi acometido pelo mal de Parkinson. Idoso, passou a sofrer freqüentes desmaios a partir de 1993. Em fevereiro de 1999, pegou um resfriado acompanhado de febre. Acabou transladado ao Hospital Donghua. A equipe médica que supervisionava sua saúde operou sua traquéia. Apesar da seqüência de doenças, nunca largou sua caneta favorita.
Shu Yi nos contou:
"Ba Jin tinha que superar vários obstáculos físicos para escrever. Era um grande sofrimento. Mas ele sentiu-se alegre ao exprimir francamente suas idéias e trocar opiniões com outras pessoas. Ele entregou seu coração aos leitores".
Nos últimos cinco anos posteriores, Ba Jin sofreu uma longa seqüência de doenças respiratórias, até que um sintoma mais agudo surgiu em abril deste ano.
Depois de apresentar problemas no celíaco no dia 13 de outubro, os médicos diagnosticaram um tumor mesotelioma maligno, vindo a falecer quatro dias depois.
Para os chineses, Ba Jin é como se fosse um farol que orientou marcha dos jovens ao longo de um século rumo adiante e uma luz espiritual que nunca será apagada.
Vamos, agora, apreciar alguns dos trechos clássicos de suas obras. A vida deve ser conquistada por nós próprios. Temos que ser otimistas e firmes. Nunca é tarde para se fazer agora.
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