Há mais de dois mil anos, a Grande Muralha tinha como finalidade primeira a defesa militar do território. Daí as diferentes dinastias empregaram grandes massas humanas e imensos recursos materiais para repará-las. Ao mesmo tempo, ela facilitava a exploração de recursos naturais das zonas fronteiriças, garantia o transporte e servia como via de comunicação expressa.
Hoje, ela não tem mais serventia, devido ao desenvolvimento da civilização e às armas sofisticadas. Na antiguidade, porém, quando a guerra era feita principalmente com flechas, sabres, achas, alabardas, escadas, catapultas, a muralha desempenhava importante função de combate. Era praticamente intransponível, inculnerável.
Ao longo da Grande Muralha, estendiam-se imensas áreas desertas de gente. Assim, quando se enviava uma guarnição para um ponto da Grande Muralha, havia que resolver também o problema do abastecimento. Durante o reinado de Qinshihuang, além de se unificar, reparar e ampliar a Grande Muralha, foram assentadas ao longo da mesma doze circunscrições administrativas, onde se estabeleceram numerosos núcleos coloniais para explorar os recursos naturais dessas áreas e dedicar-se a produção agropecuária, a fim de garantir o abastecimento das guarnições de defesa fronteiriça. Na dinastia Han do Oeste (206 a. n. e. - 24) o imperador Wu Di empreendeu o desbravamento de grandes extensões pelas próprias guarnições fronteiriças, a fim de desenvolver organizadamente a produção agropecuária, com bons resultados. A Grande Muralha garantiu o desbravamento normal dessas áreas e a criação de bases materiais para defendê-las. A produção e outros aspetos econômicos das regiões fronteiriças desenvolveram-se e prosperaram.
No reinado de Qinshihuang, existiam no Norte da China vias de comunicação amplas e retas, inclusive a estrada imperial para Xianyang, a antiga capital. Aquelas doze novas circunscrições administrativas também estavam ligadas a esta rede de comunicação, graças ao que o envio de documentos oficiais e o tráfego de mercadores se efetuava com rapidez. A Grande Muralha veio proporcionar melhores condições para garantir a fluidez do tráfego por esses caminhos. Durante a dinastia Han do Oeste, abriu-se uma grande estrada para o tráfego em direção aos territórios do Oeste, isto é, a oeste de Dunhuang, Província do Gansu. Por este caminho, tinha-se acesso ao Xinjiang, depois de atravessar o planalto do Pamir, entrava-se pela Ásia Central e chegava-se à Ásia Ocidental e à Europa. É a antiga e famosa Rota da Seda. A fim de garantir a segurança do acesso da China ao Ocidente, a dinastia Han do Oeste, além de reparar a Grande Muralha levantada pela dinastia Qin, ampliou e reconstruiu os setores leste e oeste. A do setor oeste chegava diretamente ao Xinjiang, passando por Dunhuang. Formou-se assim um longo caminho ao norte do corredor de Hexi, de grande importância para o desenvolvimento do intercâmbio comercial e cultural entre a China e o Ocidente.
A Grande Muralha era realmente um completo sistema de defesa. Construída em áreas de difícil acesso, na crista das montanhas, tinha a vantagem de tornar fácil a defesa e difícil o ataque. Além disso, compreendia uma série de fortificações e de sedes de poder. Os organismos militares administrados pelo imperador encarregavam-se dos assuntos da defesa da Grande Muralha, ao longo da qual se estabeleciam também os zhen ? posições estratégicas ou comando militares. Na dinastia Ming, foram estabelecidos nove zhen, para defender cada setor.
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