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(GMT+08:00) 2005-07-19 10:06:37    
O rei tem um chifre na cabeça (Tibetano)

cri

Os tibetanos---pastores, vagabundos e lamaístas---gostam de tocar flauta. Porquê? Deixem-me contar-vos uma história:

Era uma vez um rei, chamado Langdama. Homem desonesto dominou o Tibete. Tinha um coração duro e frio como gelo; astucioso como a raposa, e cruel como o lobo e a sua ambição era vasta como o mar. Após a sua coroação, os tibetanos foram forçados a trabalhar como escravos. E se a vida já não era fácil assim, mais veio dificultá-la a miséria natural: pestes, inundações e tempestades.

Uma vez, Langdama foi caçar com os seus vassalos. Nuvens de poeira cobriam o sol e os gritos das pessoas e relinchar dos cavalos faziam estremecer a floresta montanhosa. Com um cão de caça à trela, Langdama entrou numa yurta dum caçador. Assustado, o cão do dono da yurta escondeu-se atrás da única pessoa que se encontrava na yurta, uma mulher. Esta o apertou ao colo, e como se quisesse esconder a sua beleza, não se atrevia a levantar a cabeça.

Langdama gritou: "Onde está o dono da yurta? Tu, mulher, por que não me respondes?" e como ela se mantivesse em silêncio, Langdama ordenou aos seus homens a levassem para o palácio.

Num instante tinham partidos. Só se ouvia o pequeno cão preto ladrar e a bandeirola sobre a yurta, estalando ao vento.

O sol começou a descer, o cão acabou por calar, por cansaço e foi aninhar-se num canto da yurta. Fora, ouviu-se chamar. Era o caçador que regressava. "Zhuoma! Zhuoma! Vem ver o que te trago!" Gritou várias vezes, mas ninguém deu resposta. O cão veio ao seu encontro. Então, julgou que Zhuoma estava a brincar com ele. Entrou na yurta, um sorriso brincando-lhe no rosto, "Onde estás?" e os seus olhos procuraram a mulher, para logo perceberem que algo de anormal se passara! O bule partido, o vinho entornado, uma bota meio-acabada caía à porta da yurta... Onde estava Zhuoma? Desaparecera. Correu pela montanha, mas só o eco lhe respondia, vindo dos vales: "Zhuoma! Zhuoma!" Então, acompanhado do seu pequeno cão preto, foi procurara a mulher.

Atravessou montanhas e rios, mas sem sucesso. Ninguém sabia informá-lo. Busca inglória! Era como se estivesse a procurar um pêlo de carneiro perdido na pradaria.

Como podia ele saber que Zhuoma estava a sofrer no palácio real? Havia muita lã para lavar, no palácio de Langdama. Zhuoma era obrigada a lavar e tecer, dia e noite. Rolos e rolos de tecidos de lã; o seu trabalho nunca acabava... O trabalho era esgotante, mas de temer, era ser escolhida! Escolhida para pentear o rei Langdama. As que iam, nunca voltavam. As suas colegas iam desaparecendo, uma após outra, dia após dia. Para onde iam? Ninguém sabia! Por isso, quando uma era escolhida, despedia-se sempre das outras. Não sabia qual seria o seu destino. Sabia apenas que ia para não voltar.

Um dia, Zhuoma foi chamada para pentear Longdama.

Como era hábito, também ela se despediu das colegas. Levada à pressa do rei, a medo, desatou-lhe os cabelos que pareciam fibras de juta amarela. Ah! Agora, percebia tudo: Na cabeça de Langdama crescia um chifre! Não admira que todas as mulheres escolhidas para penetrar desaparecessem. Ao descobrirem que ele tinha o corno, como era possível que outra fosse a sua sorte que não a morte!? Se fossem postas em liberdade, o segredo seria espalhado aos quatro ventos. Zhuoma, enquanto entrançava os cabelos do rei, pensava no seu triste destino. As lágrimas caiam-lhe dos olhos como pérolas dum colar a que se partiu o fio. Algumas caíram no pescoço de Langdama, que levantou a cabeça, admirado, para logo reconhecer a mulher que trouxera da sua caçada, num dia que já esquecera, e perguntou: "Por que choras?".

"Porque vou morrer!"

"Como posso não te matar?" perguntou o rei. "Não posso permitir que vás contar aos quatro ventos que Langdama tem um corno na cabeça! Isso não pode ser! O povo não podia tolerar-me!"

Zhuoma suplicou: "Meu rei se tem receio de que o segredo se saiba, eu juro não contar a ninguém e a partir de hoje só eu o pentearei... Ninguém saberá o seu segredo!".

"Não! Não acredito nas tuas palavras!"

"Respeitarei a minha promessa!"

Langdama, preso da beleza da mulher, pensou um momento em silêncio e disse: "Está bem! Jura pois que guardarás o meu segredo!"

Jura feita, o rei não a matou. Zhuoma era a primeira mulher a voltar para o grupo, após ter penteado o rei!

Jurara, mas a sua vontade de quebrar a jura feita era enorme: odiava o rei, considerava-o seu inimigo e um monstro! Que maravilha, se todos soubessem que... Mas, jurara e não podia violar a sua promessa.

(Continua...)