Dia 3 de junho, no Cemitério Revolucionário de Babaoshan, Beijing, centenas de jornalistas e pessoas de todos os círculos sociais renderam seus últimos respeitos a um filho chinês especial, quem é jornalista de carreira durante mais de 70 anos.
É Israel Epstein (1915-2005), falecido dia 26 de maio em Beijing.
Seus colegas, e aqueles no país que tinham sido comovidos por suas séries de livros sobre a China e sobre sua vida própria, assistiram ao funeral em homenagem a Epstein, homem que testemunhou e documentou todos os sucessos dramáticos da história moderna e contemporânea da China.
"Eppy era um intelectual, um erudito sério com uma ampla gama de interesses", disse Sidney Shapiro, advogado e escritor americano convertido em cidadão chinês em 1963, numa entrevista com o jornal China Daily.
"Mas o que cumpriu em sua longa e frutífera vida foi ditado essencialmente por seu coração. Ninguém amava a China tanto como ele, e ninguém estava tão dedicado à causa da revolução chinesa como ele", disse Shapiro.
Após a morte, Epstein deixou um rico legado, especialmente em livros e ensaios.
Do documentário de cores com o título Homem de olhos redondos no Reino Central que tem Epstein como protagonista ainda se recordam os comentários feitos por um crítico que o descrevem como a "primeira pessoa" e falam de sua "meditação sobre a história, a vida dos estrangeiros na China e as relações da China com os Estados Unidos e Ocidente".
Com este documentário, Ronald Levaco, produtor-diretor de Trans Film & Video com sede em São Francisco e professor de cinema emérito da Universidade Estadual de São Francisco, procurou dar resposta a um bom número de perguntas:
Porquê Israel Epstein se uniu à revolução dirigida pelo Partido Comunista da China, da qual fugia a maioria dos estrangeiros? Porquê ficou na China depois de cinco anos de prisão durante a "revolução cultural" como "espião americano suspeito"? Porquê sua vida na China contemporânea é de um jornalista destacado e de um homem naturalizado chinês com "olhos redondos" e um "nariz grande"?
O documentário foi convidado a mais de 40 festivais de cinemas internacionais e teve um grande número de espetadores.
Epstein respondeu a todas estas perguntas com sua própria vida e trabalho.
Nascido em Varsóvia em 1915 numa família judeu, Epstein chegou à China com seus pais quando tinha apenas dois anos.
Viveu sua infância e anos de formação na cidade de Tianjin, onde desenvolveu um vivo sentido da história e justiça.
Epstein descreveu a Velha China como uma "bola" pisoteada na arena internacional.
"Na concessão britânica em Tianjin onde vivíamos, as ruas tinham nomes em memória de invasores estrangeiros como Elgin, Gordon, Seymour, quem reprimiram levantamentos sociais de nacionalistas chineses e construíram salões de aulas de nossa escola. Esta nomenclatura era um insulto diário ao país em cujo solo estávamos", escreveu Epstein no livro Desde a Guerra do Ópio até a Libertação, o qual revisou e aumentou em quatro ocasões entre 1956 e 1998.
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