Em 73, os xiongnu(huns), povo nómada do norte, vinham pondo em risco a antiga Rota da Seda, para ocidente, através dos incursões nas terras fronteiriças sob o domínio da dinastia Han do Leste e dos muitos pequenos reinos localizados na zona que é a atual Xinjiang. No mesmo ano, o general Ban Chao (32-102) foi enviado como emissário a esses estados conhecidos como as "Regiões ocidentais". Alguns tinham pedido já auxílio aos han, contra os xiongnu que lhes exigiam altos tributos, e outros tinham de ser conquistados. Essa era a missão de Ban Chao.
Acompanhado por um funcionário civil e um grupo de 36 pessoas, Ban Chao chegou primeiro a Shanshan (a famosa cidade enterrada de Loulan). O rei de Shanshan deu mostras da sua hospitalidade ao recebê-los, e visitou-os pessoalmente. Então de súbito, as coisas mudaram, e o rei começou a tratá-los friamente. Ban Chão suspeitou da chegada de algum enviado dos xiongnu a Shanshan, e que devia estar a pressionar o rei.
Dirigiu-se ao oficial de Shanshan encarregado de tomar conta deles e exigiu que este lhe dissesse onde se encontrava o enviado dos xiongnu, pretendendo saber mais do que na realidade sabia. O estratagema resultou, e Ban Chao depressa estava ao corrente do paradeiro do xiongnu. Decidiu então fazer uma demonstração de força a fim de convencer o rei de Shanshan de que os han eram os mais poderosos aliados.
Ao anoitecer, Ban e os sues homens cercaram rapidamente a residência onde moravam o emissário dos xiongnu e os seus muitos guardas. Logo a seguir, lançaram fogo às casas, enquanto dez soldados han faziam soar freneticamente os sues tambores. Os xiongnu, tomados de pânico, precipitaram-se para fora, pensando estar rodeados por uma força muito superior. Muitos foram mortos pelos soldados de Ban, e outros morreram no fogo. Surpreendido pelo fato do pequeno grupo han ter derrotado tão grande número de xiongnu, o rei de Shanshan aliou-os aos han.
Ban Chao continuou a sua missão para oeste, ajudando os estados da região a libertarem-se do controle dos xiongnu. Ganhou-lhes assim o respeito e todos apreciavam a paz e a estabilidade trazidas pela aliança com os han.
As realizações de Ban Chao no oeste não foram apenas feitas de astúcia, como o da história anterior. Os seus sucessos tinham uma base sólida: um vasto conhecimento e compreensão dos estados das Regiões Ocidentais, obtidos através da sua própria experiência com os xiongnu, e as pesquisas efetuadas pela sua família de famosos historiadores. Com base nisto, Ban Chao estava em posição de recomendar pressões de determinados estados sobre outros, para os forças a aliarem-se aos han.
Quando se estabeleceu uma aliança geral entre todos os estados da região de Xinjiang em 97, Ban Chao continuou a sua expedição diplomática para oeste, ao longo da Rota da Seda, estabelecendo alianças com muitos estados na região do mar Cáspio, onde chegou. Daí mandou um enviado, chamado Gan Ying, em busca de Roma, a outra extemidade da Rota da Seda, cujo império se encontrava não muito longe do Cáspio. Gan chegou ao Mar Negro, mas provavelmente assustou-se com as histórias dos persas, quem não gostavam da ideia de se verem oprimidos entre uma Roma e uma China unidas por laços de amizade.
Ban teve uma juventude muito dura. O seu pai morreu jovem, e o seu irmão mais velho, Ban Gu, era então um oficial menor, que ganhava muito pouco. Para sustentar a família, Ban Chao viu-se a fazer trabalho de copista, o que considerou na altura um desperdício da sua vida. Finalmente, um dia, pôs de lado o pincel com as palavras: "Um verdadeiro homem deve ser ambicioso". Tornou-se soldado e distinguiu-se nas batalhas contra os xiongnu.
Depois, o seu irmão, Ban Gu, começou a escrever histórias, e foi acusado de ter difamado a corte distorcendo os fatos, o que o conduziu à prisão, tendo o seu trabalho sido confiscado. Mal ouviu a notícia, Ban Chao deslocou-se da sua terra natal, perto de Xi'na, na província de Shaanxi, para Luoyang, na altura a capital, e conseguiu avistar-se com o imperador, a quem explicou que o irmão não tinha nenhuma intenção de difamar a corte, mas, pelo contrário, tinha estado empenhado em louvar os seus méritos. Pediu ao imperador que lesse o manuscrito. O governante fê-lo e não descobriu qualquer difamação. O imperador expressou a sua admiração pelo estilo de redação de Ban Gu e promoveu-o para chefe da Biblioteca Imperial Lantai, na capital.
Ban Chao passou a governante geral da Ásia Central. Os seus trinta anos vividos no oeste tinham-lhe arruinado a saúde, e agora, que já não era jovem, encontrava-se gravemente doente. Pediu à corte licença para regressar a Luoyang para receber tratamento médico, mas o seu pedido foi ignorado. Foi uma carta comovente, que sua irmã Ban Zhao escreveu ao imperador, enumerando os contributos de Ban Chao, dando juízo do seu estado físico e exprimindo o desejo de reunião da família dos Ban, que trouxe Ban Chao de regresso a casa.
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