Uma antiga canção popular ainda hoje cantada, é a de Su Wu. Dizem os seus versos: "Su Wu, prisioneiro dos huns, não perdeu a sua integridade."
Enviado como emissário do imperador Han Wu Di para os xiongnus (huns), povo nómada do norte, Su Wu (? -60 a.C.) foi por eles detido, mas, apesar de grandes privações, recusou-se a trocar a sua própria liberdade pela traição.
Durante mais de um século, os xiongnu tornaram-se cada vez mais poderosos, criando problemas nas terras fronteiriças aos seus domínios, e que estavam sob o controle dos han. A missão especial de Su Wu residia no resolver a questão da detenção indiscriminada dos enviados de ambas as partes, que era praticada desde havia há algum tempo. Su Wu nasceu duma família de militares que se distinguira na luta contra os xiongnu, e a História da Dinastia Han, que conta a sua história, atribui a sua determinação indomável à rigorosa educação familiar que conheceu.
Em 100 a.C., Su Wu partiu com um subalterno chamado Zhang Sheng e algumas centenas de servidores com uma rica carga de ofertas para o Chanyu, o rei xiongnu. Su Wu esperava cumprir com sucesso a sua tarefa e pôr termo às desinteligências que se tinham agravado durante os anos.
Ao chegar ao norte, descobriu que a situação não era a mais desejável. O Chanyu mostrava-se altivo e desconfiado. As coisas tornaram-se mais complicadas quando zhang Sheng se viu envolvido numa manobra contra os líderes dos xiongnu.
Anteriormente, um tal Yu Chang, um han, fugira para o lado dos xiongnu, e pensava, agora, regressar às boas graças dos hans. Reunindo à sua volta setenta pessoas, planeou raptar a mãe do Chanyu para impressionar a delegação han. Contou o seu plano a Zhang Sheng, que apoiou a idade. Os esforços foram inúteis e Yu Chang foi capturado, o ocorrido coincidiu com a visita de Su Wu, o que, naturalmente fez com que o Chanyu suspeitasse que Su Wu estava por trás da trama.
Quando Zhang Sheng lhe contou a situação, Su Wu ficou enfurecido. "Sou um emissário do imperador han. Se eu for interrogado, isto constituirá um enorme insulto para os han", disse ele, e, para evitar que isto acontecesse, pensou matar-se a si próprio, imediatamente. Mas os seus criados detiveram-no, tirando-lhe à força a espada.
O Chanyu ordenou que Su Wu e a sua comitiva fossem julgados e Su tentou, de novo, suicidar-se. Desta vez, o Chanyu convenceu-se que Su Wu tinha por certo que ver com o plano secreto, e quis forçá-lo a confessar. Acabou no entanto por perceber que tinha, à sua frente, uma pessoa de vontade indomável, que devia servergada. Entretanto, Yu Chang foi sentenciado à morte e executado de imediato. Mais tarde, o xiongnu foi "trabalhar" Zhang Sheng, tipo sem coragem, que confessou o crime, ainda que, de fato, não tivesse tido influência alguma direta com o plano.
Mas Su Wu foi diferente. "Que culpa tenho?", perguntava. Não queria confessar um crime não cometido para sobreviver, pois sabia que isto iria ter consequências desastrosas nas relações entre os han e xiongnu. Estes perceberam que nem a ameaça da morte poderia assustar o emissário han. Então, tentaram comprá-lo, oferecendo-lhe uma alta posição e uma fortuna considerável. Mais não receberam em troca do que as acusações severas de Su Wu.
Su Wu foi depois abandonado numa caverna húmida e fria, sem comida e água, durante quatro dias e noites consecutivas. Estava-se no pino do inverno e fazia um frio terrível. Sem comida e água, Su Wu, enfraquecido, viu-se obrigado a comer neve a mastigar um bocado do seu cobertor de feltro para apaziguar a sede e a fome. Surpreendidos pelos sua fonte poder de sobrevivência, os xiongnu começaram a crê-lo protegido por alguma divindade.
Finalmente, enviaram Su Wu a guardar carneiros nas margens do "mar do norte", Lago Baikal. Apontando para alguns carneiros, o Chanyu disse-lhe: "Só na altura em que os carneiros parirem crias você poderá regressar a Han", o que era o mesmo que dizer nunca, a menos que Su Wu se passasse para o lado dos huns.
Su Wu manteve-se digno face a esta nova prova. Perguntou pelo seu bastão oficial, feito de bambu e com borlas de pelos de iaque, símbolo da sua autoridade como representante dos han, e, empunhando-o, partiu com os seus carneiros na direção do Lago Baikal.
Viveu dezanove difíceis anos naquele local frio e desabitado. Não possuía o suficiente para comer e, no inverno, tinha de caçar ratos para se alimentar. Contudo, pouco lhe importava que as condições de vida fossem duras. Nunca esqueceu que era o emissário dos han. Com o tempo as borlas de pelos de iaque desapareceram, mas Su Wu conservava sempre consigo o bastão oficial.
Em 81 a.C., os han e xiongnu as sinaram um tratado de paz e estabeleceram relações normais. Um oficial han foi enviado aos xiongnu para trazer de volta Su Wu. Com medo de revelar a verdade, os xiongnu mentiram, dizendo que Su Wu tinha morrido havia muito. O enviado han retorquiu:" O nosso imperador saiu certa vez numa caçada e apanhou um ganso selvagem vindo do norte. Na pata deste ganso, havia uma mensagem escrita por Su Wu, atada com um pedaço de seda. Isto confirma que ele está ainda vivo." Então, o chefe dos xiongnu deu ordem para que fossem buscar Su Wu e o deixassem retornar ao seu estado.
Su Wu tinha então mais de sessenta anos e os seus cabelos estavam completamente brancos. Quando regressou, trazia nas mãos o bastão oficial. Regressou ao palácio em Chang'na, e foi recebido pelo imperador Han Zhao Zong, que o nomeou para um cargo oficial de alta hierarquia, como responsável pelos assuntos das minorias nacionais e dos estados vassalos. Após a sua morte, o seu retrato foi pendurado no palácio imperial, ao lado dos de dez grandes ministros na história Han, para que a sua pessoa ficasse para sempre na memória de quantos vivessem depois dele.
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