Quando o período dos Reinos Combatentes se acercava do seu término, o rei do estado de Qin, Ying Zheng, conhecido posteriormente como o imperador Qin Shi Huang, começou a dispender maiores esforços para acelerar a realização do seu programa de conquista, que o ajudaria a sujeitar todos os estados ao seu domínio em 221 a.C. Por volta de 227 a.C, Qin derrotou os estados de Han e Zhao, ameaçando o estado de Yan, localizado no nordeste ao longo da costa.
O príncipe Dan filho do rei de Yan, não vendo outra saída para defender o seu estado, decidiu que só lhe restava recrutar alguém para assassinar Ying Zheng. Dan alimentava um ódio particular por Ying Zheng, porque fora capturado por ele, que o obrigara a viver como prisioneiro em Qin durante cinco anos, antes de concretizar a sua fuga.
Quando do seu cativeiro, o príncipe conheceu Jing Ke, que se fez seu amigo íntimo. Jing Ke era um aventureiro, vindo do estado de Wei, e que o acaso levara a Yan. Ali se misturou como o povo, a quem estava sempre prestes a ajudar, o que lhe granjeou uma boa reputação. Do seu primeiro encontro, Dan e Jing Ke sentiram crescer uma forte amizade. O príncipe considerou Jing Ke a pessoa certa para realizar o seu objetivo. Para lhe obter os favores, construiu-lhe um palácio de luxo e servia-lhe os mais finos manjares. Visitava-o de vez em quando e cedeu-lhe mesmo a sua carruagem favorita.
Um dia, quando os dois contemplavam, à beira dum tanque, o lento vaguear dos peixes doirados, uma tartaruga veio à tona de água observá-los. Jing Ke pegou numa pedrinha, e atirou-a à tartaruga. Ao ver isto, o príncipe mandou fundir bolinhas de ouro para Jing Ke as lançar às tartarugas.
Doutra vez, quando caçavam, Jing disse que com fígado de cavalo, se fazia um delicioso prato. Imediatamente o príncipe fez matar o eu melhor cavalo, arrancar-lhe o fígado, e cozinhá-lo para Jing Ke, a quem as repetidas ações de cortesia do príncipe impressionavam mais e mais. De tal modo que se sentiu na obrigação de fazer algo em paga dos favores recebidos.
Por essa altura, as tropas de Qin vinham-se aglomerando ao longo da fronteira sul de Han. O príncipe chamou à sua presença Jing Ke, e revelou-lhe o seu desejo de salvar Yan por meio do assassínio do rei de Qin.
"eu já tinha pensado nisso", disse Jing Ke. "O problema reside em como conseguir chegar ao pé dele." Pediu depois duas coisas indispensáveis para a concretização do plano: O mapa do distrito de Dukang (hoje no centro da província de Hebei), a mais fértil parcela do território de Han, que o rei de Qin cobiçava desde havia muito, e a cabeça dum homem chamado Fan Yuqi, que tinha desertado de Qin para Yan e cujo nome fazia parte da lista de procuras em Qin. "Se eu oferecer essas duas coisas ao rei de Qin, ele vai indubitavelmente receber-me em pessoa. Então, aproveitar-me-ei da oportunidade para o assassinar," explicou Jing Ke.
Enquanto o príncipe lhe arranjava o mapa de Dukang, Jing Ke foi a casa de Fan Yuqi e contou-lhe os pormenores do seu plano. Convencido de que sacrificar a sua própria cabeça seria prestar um serviço de grande significado a Yan e que se vingaria também de Qin, Fan autodegolou-se. Jing Ke separou então do corpo a cabeça de Fan e levou-a consigo. Antes de partir, o príncipe deu-lhe um punhal com a lâmina untada com um veneno e ordenou a outro valente, de nome Qin Wuyang, que o acompanhasse.
Jing Ke deslocou-se para Qin e pouco depois, conseguia uma entrevista pessoal com o rei. Contudo, ao chegarem à presença real, o companheiro de Jing Ke mostrou-se nervoso. As suas mãos não cessavam de tremer. Jing Ke, ao perceber a desconfiança do rei, explicou que o seu companheiro estava aterrado pelo fato de se encontrar perante tão grande personalidade, e daí o seu nervosismo.
Transportando numa caixa de madeira a cabeça de Fan e o mapa, Jing ocultara no interior deste o punhal envenenado. Quando chegou ao pé do rei, desenrolado o mapa, o punhal apareceu. O rei recuou alguns passos, atónitos. Jing Ke deu um salto e aproximando-se do rei agarrou-o pela manga, com o punhal em riste. Mas o rei sacudiu-se bruscamente e o golpe desferido por Jing apenas lhe rasgou a manga.
O rei correu para trás dum pilar, perseguido por Jing Ke. Por motivos de segurança pessoal, o rei não permitia a ninguém entrar no salão do trono com qualquer arma que fosse, e por esta razão os subalternos presentes encontravam-se desarmados. Mas o seu médico privado interveio, colocando-se entre eles e agitando o seu estojo de medicina, o que permitiu ao rei retomar o fôlego e puxar da sua espada ferindo Jing Ke na perna esquerda. Este, numa última tentativa desesperada, arremeçou contra o rei o punhal, mas não atingiu o alvo. Alertados, os guardas entraram de rompante na sala do trono e mataram Jing Ke e o seu companheiro. O plano de assassínio não se realizara.
Deste conto histórico chinês nasceu um provérbio popular - "Quando o mapa é desdobrado, o punhal aparece"-, significando que as sinistras intenções duma pessoa são sempre finalmente expostas. Após o ocorrido, as forças armadas de Qin atacaram Yan, ocupando a sua capital no ano seguinte. Ying Zheng forçou então o rei de Yan a matar o seu próprio filho, o príncipe Dan.
Mais ou menos em 222 a.C, o estado de Yan tinha sido completamente eliminado pelo estado de Qin, nada mais restando dele do que uma memória e um punhado de histórias, entre as quais esta se conta.
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