Um dia, à noite, quando a rapariga estava a bordar sozinha à luz do candeeiro, a chama fez-se de novo flor vermelha e dela saiu um pavão colorido, que abriu a cauda em leque e começou a cantar:
Desabrocha a flor do lírio, e que bem cheira!
Do candeeiro a chama se faz flor, e é tão vermelha,
Mas em mãos de tão grande preguiçoso, a flor fanece
Menina, vais para o céu comigo, que ele te não merece!
A chama do candeeiro estremeceu, e num ápice já o pavão ia janela fora, levando a rapariga. Du Lin levantou-se dum salto ma já não conseguiu agarrá-los, tudo quanto pôde, foi arrancar uma pena da cauda do pavão, e ali ficou a vê-los agastar-se em direção à lua...
Sem os conselhos da esposa, Du Lin tornou-se ainda mais preguiçoso. Bebia e comia a mínima moderação e. depois de satisfeito, pegava no caminho e na gaiola do pássaro e ia passear.
Pouco a pouco, tudo, cereais, gado e roupa, foram vendidos. Na cama, restava-lhe uma esteira de palha. Dia de feira, levantou-se, e como a esteira fosse tudo quanto lhe restava, decidiu pegar mela e ir vendê-la. Mas, quando a enrolou, descobriu sob ela dois lenços bordados. Num, ele e a companheira apanhavam arroz, doirado como oiro, nos arrozais em socalco na encosta da montanha. No outro, o casal trabalhava sob a luz do candeeiro---Du Lin entrançava cestas de bambu e a sua companheira, bordava---, e, o celeiro estava cheio de cereais e o curral, de gado.
Olhando os lenços, recordou o passado, e lágrimas grossas rolaram-lhe pelo rosto, e foram correr sobre os lenços bordados. Batendo na cabeça com as mãos, disse a si próprio: "Du Lin, Du Lin! Tu estás a provar a fruta amarga da tua má conduta!" E, cerrando os dentes, pegou no cachimbo, partiu-o e atirou-o para o fogo que crepitava na lareira. Depois, abriu a gaiola, libertou o pássaro, e do mesmo modo destruiu a gaiola e fez dela lenha. Olhou as chamas durante um momento e, com um ar decidido, pegou no sacho, e foi para montanha sachar a terra.
Daí em diante, passou a trabalhar de dia na terra, e à noite a entrançar cestas à luz do candeeiro, como antes fazia.
Um dia, pegando na pena do pavão colocou-a no gral de pedra onde um dia colocara o lírio, e lembrou-se da bela flor, da sua esposa... Lentas, as lágrimas caíram.
Um dia, a pena do pavão transformou-se num lírio que sabia cantar, e de novo a lua se fez redonda, e chegou a Festa do Meio Outono. Du Lin estava a entrançar a cestas, quando nova flor vermelha abriu no candeeiro, e dela saiu a sua companheira, cantando:
Desabrocha a flor do lírio e que bem cheira!
Do candeeiro a chama se faz flor, e é tão vermelha,
E porque dia e noite, o rapaz a trabalhar se aplicou,
No candeeiro, nova flor abriu, e sua companheira a ele voltou!
A chama tremeu, o lírio desapareceu e de novo a companheira de Du Lin estava a seu lado.
A partir de então, o casal trabalhou na terra de dia, e à noite, em casa, e a sua vida voltou a ser feliz como antes.
(Fim)
|