Em meados de Junho de 1983, faleceu Li Kuchan, artista eminente especializado na pintura de flores e animais. "Como Zhang Daqian (1899-1983), a morte de Li Kuchan foi uma grande perda para a pintura chinesa e mundial", disse uma personalidade dos meios artísticos na sua mensagem de condolências.
Li Kuchan (1898-1983), cujo nome original era Li Ying, nasceu numa família de camponeses no distrito de Gaotang, na província de Shandong. Desde criança, amava a natureza e desenhava no chão, com um galho ou pedaço de telha, o que via à sua volta. Às vezes, tentava traçar um pássaro ou um insecto quando os apanhava durante as suas brincadeiras.
Li Kuchan conheceu o famoso mestre da pintura tradicional chinesa, Xu Beihong (1895-1953), em 1919, quando era estudande trabalhador na Universidade de Beiping. Xu Beihong iniciou-o na arte do esboço. Mais tarde, entrou na Faculdade Nacional de Arte para aprender a pintura ocidental. Neste período conheceu Qi Baishi (1864-1957), o mestre mais famoso da pintura tradicional chinesa de então e passou a ser seu discípulo. Estes dois mestres influenciaram Li Kuchan profundamente na sua carreira de pintor.
Durante os estudos, Li Kuchan levava uma vida muito difícil, sendo obrigado a puxar riquexó depois das aulas para se sustentar e pagar as despesas escolares e apanhava as pontas de lápis que os colegas deitavam fora. Alguns colegas puseram-lhe um apelido: "Kuchan" (O que persiste no estudo em condições árduas"). Qi Baishi gostava do talento dele e ensinava-o gratuitamente. Além disso, Qi Baishi mandou fazer um selo com três carateres gravados " Si Bu Xiu", aprender até à morte, para o estimular a trabalhar com afinco. Tomando as instruções do mestre como máxima e por causa do seu aproveitamento nos estudos, Li Kuchan progrediu rapidamente e criou um estilo próprio. Aos vinte e nove anos foi contratado como professor da Faculdade de Arte de Hangzhou. Xu Beihong apreciou a pintura Lentilhas, de Li Kuchan e nela escreveu: "Esta pintura está cheia de força natural." Em lótus, Qi Baishi escreveu: "Este trabalho foi feito por Li Kuchan, meu único discípulo."
Recebendo diretamente as orientações e instruções dos mestres famosos, Li Kuchan combinou as tradições artísticas do nosso país com as técnicas da pintura ocidental. O fundo de muitas das pinturas de flores e pássaros eram vales profundos e grandes rios e lagos. Pareciam sobrenaturais as aves aquáticas e aves ferozes que ele pintou através da sua técnica, basicamente sem a utilização de cores fortes. As suas pinturas são fortes e equilibradas. Quanto à habilidade da pincelada e preparo da tinta, foi um dos grandes pintores contemporâneos chineses.
No meio século da sua carreira de pintor, Li Kuchan deixou-nos obras artísticas de grande valor. No meio do Verão pintado aos 81 anos de idade está na sala frontal do Grande Palácio do Povo. "A China está prosperando dia a dia, e é esse o meu desejo. Hua Xia significa China e Verão. Os lótus desabrocham no Verão, por isso lhe chamei No meio do Verão", escreveu na pintura, elogiando a prosperidade do país através do lótus em flor.
Nas águias que Li Kuchan pintou, o bico e olhos retangulares, salientam a ferocidade e força do animal. No que respeita ao exagero artístico, ele disse: "No princípio, eu pintei várias áquias sem exagerar as caraterísticas do animal, mas senti que não conseguia descrever perfeitamente a ferocidade e violência da águia. Por isso, comecei a observar as águias, falcões e abutres, para captar as suas particularidades, a fim de criar uma nova espécie de águia. No decorrer da prática, formei uma imagem sintética na mente. Se um pintor não fica satisfeito com o que pinta, tem de modificar e exagerar. A águia que pinto não existe na realidade, mas reflete a essência da verdadeira ave, é a realidade artística. Só assim me posso livr ar do jugo das imagens objetivas para pintar o que penso e amo."
Os sucessos que Li Kuchan obteve na carreira de pintor são inseparáveis da sua nobre personalidade. "A personalidade do pintor procede ao caráter da pintura. Sem uma boa personalidade, não é possível fazer com trabalho," disse aos alunos Li Kuchan. Em 1940, sendo acusado de manter contatos com o Oitavo Exército, Li Kuchan foi preso pelos invasores japoneses. As torturas desumanas não conseguiram curvar-lhe o patriotismo.
Li Kuchan dedicou sessenta anos da sua vida ao ensino artístico. Em janeiro de 1983, os círculos artísticos de Beijing realizaram uma série de atividades comemorativas, em homenagem ao pintor, mestre prestigioso e incansável, que seis horas antes da sua morte, estava ainda a pintar na sua sala de trabalho.
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