Este provérbio chinês significa "demasiada desconfiança", "suspeita infundada" ou ainda "temor desnecessário", e provém de uma história ocorrida durante o período da dinastia Jin, que decorreu entre os anos de 265 e 420 da nossa era.
Certa vez, Yue Guang convidou um amigo íntimo para um jantar em sua casa. Claro que a uma refeição dessas não faltou vinho; mas, em contraste com o hospitaleiro anfitrião, o convidado quase não falava nem bebia, e via-se que estava profundamente inquieto, acabando por se retirar antes de todos os pratos terem sido servidos.
Tendo voltado para casa, o amigo de Yue Guang caiu doente, e nem os melhores médicos conseguiram que o seu estado de saúde melhorasse.
Ao saber do que se passava, Yue Guang dirigiu-se imediatamente para a casa do amigo, a quem consolou o melhor que pôde, fazendo questão de saber o verdadeiro motivo da sua doença.
Depois de muita hesitação, o enfermo disse, gaguejando:
- No...no jantar que tu me ofereceste, eu...eu vi uma pequena serpente a nadar no seu copo de vinho. Nesse momento, senti uma tontura e...voltei para casa e caí de cama.
- Bem, melhor do que todos os médicos, sou eu próprio que vou curar a tua enfermidade: basta jantares outra vez em minha casa.
O entusiasmo de Yue Guang convenceu o amigo, que aceitou o convite, levantando-se e seguindo para casa daquele.
Os dois amigos sentaram-se nos mesmos lugares que tinham ocupado no primeiro jantar. Os copos estavam também nos mesmos lugares. Yue Guang serviu então o vinho e perguntou, sorrindo:
- E agora, também estás a ver a cobrazinha no copo?
O amigo, olhando para o copo, respondeu, assustado:
- Sim, sim, há uma sombra de serpente a nadar no meu copo!
Yue Guang levantou-se e, calmamente, retirou o arco que estava pendurado na parede, voltando então a perguntar, com o mesmo sorriso:
- E agora?
A sombra da serpente desaparecera. Era muito simples: a "serpente" mais não era que o reflexo do arco.
Revelada a verdade, a suspeita e o terror dissiparam-se e a doença do amigo desapareceu de vez.
Esta história deu origem ao provérbio Arco e sombra de serpente no copo, que continua a ser usado entre os chineses com o mesmo sentido que na Antigüidade.
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