É imaginável para os jovens de hoje que há mais de 100 anos a beleza das mulheres fosse julgada pelo tamanho de seus pés, ao invés de sua fisionomia ou de seu corpo. Os pés de lótus representavam um dos critérios para avaliar a beleza das mulheres na antigüidade.
O costume de enrolar os pés em forma de lótus iniciou-se por volta do final da dinastia dos Cinco Períodos (por volta do século X). Naquela época, as meninas tinham que enrolar os pés, caso contrário, quando em idade de casamento, nenhum homem se uniria a elas. O tamanho dos pés , então, influenciariam a vida inteira. Para fazer os pés de lótus, lavavam-se os pés, faziam-se as unhas, ponha-se a pomada de alume e enfaixavam-se os pés com ataduras com cerca de 10 centímetros de largura e de 3 a 4 metros de comprimento.
Durante a dinastia Qing, o costume atingiu o seu apogeu, especialmente nas províncias do Norte do país, especialmente em Shanxi, Hebei, Shangdong, Henan, Shaanxi e Gansu. O costume das mulheres Hans foi assimilado pelas mulheres da etnia manchú, que governava a China durante a dinastia Qing. Os imperadores Qing se opunham aos pés de lótus. O imperador Shunzhi, por exemplo, decretou a pena de morte às "mulheres com pés de lótus que entrassem no palácio imperial". Mesmo assim, no entanto, não impediu a moda. Depois, o imperador Kangxi, sucessor de Shunzhi, emitiu um édito para proibir o costume e ameaçou incriminar os pais das meninas com os pés de lótus. Mas era difícil proibir um hábito popular com uma ordem imperial. Quatro anos depois da sua promulgação, a ordem foi revogada. Só até os meados da dinastia Qing, o imperador Qianlong, sucessor de Kangxi, conseguiu conter a tendência entre as mulheres da etnia manchú, mas não reverteu o hábito popular.
A cidade de Tianjin, antigo centro comercial do país, era também famosa pelos pés de lótus. Os desenhos dos sapatos de pés de lótus eram muito mais variados do que em outras regiões. Naquela cidade, era possível encontrar todas as espécies de sapatos de pés de lótus produzidos no país. Produzidos em Tianjin, combinavam os estilos diferentes de todo o país. As mulheres competiam na formulação de seus desenhos. Naquele tempo, as mulheres, na sua maioria, eram domésticas. Um de seus trabalhos mais comuns era os bordados das palas dos sapatos. As mulheres das famílias ricas tinham o costume de trocar os sapatos várias vezes por dia. Isto originou um dito popular em Tianjin: "Abria-se o armário três vezes por dia". As mulheres podiam ficar com um par de sapatos com motivo de broto de flores, de manhã, e à tarde, já com outro par com flores desabrochando.
He Zhihua, especialista em vestuários da dinastia Qing, possui um grande número de pares de sapatos de pés de lótus com uma incrível variedade de desenhos: fênix e dragão para o casamento, flores, romãs ou pêssegos. As matérias primas empregadas também eram diversificadas: seda, cetim, tecido de algodão, até com o oleado, este servia provavelmente como sapatos de chuva. No acervo de He, há quase todas as espécies de sapatos de pés de lótus: sapatos para mulheres casadas com desenhos diferentes em cada lado, sapatos de sola mole para ser usados quando dormiam, etc.
Os motivos das variadas espécies de sapatos residiam em que com os pés de lótus, as mulheres nunca mais se separariam dos sapatos na sua vida, mesmo nos momentos de descanso. Como os sapatos tinham solas arcadas, chegaram a portar sinetes: tornavam os seus passos ainda mais ouvidos.
O costume de enrolar os pés de lótus causava muitos sofrimentos às mulheres desde criança. Mas, para ter os "pés de lótus de ouro", considerados como o padrão de beleza feminina pela sociedade feudal, tinham que suportar toda a espécie de dores. A chamada "beleza" custava a saúde. Citando como exemplo a região de Tianjin, as meninas começaram a enrolar os pés aos quatro ou cinco anos. Logo, aos sete ou oito anos, tinham os pés moldados. Para os enfaixar, pressionavam quatro dedos contra a planta dos pés, exceção feita ao dedão. Os pés, depois de muito tempo enfaixados, gangrenar até apodrecendo. Neste caso, amputavam as áreas atingidas. Com o decorrer do tempo, o arco da planta tornava-se curto, o comprimento diminuía e o peito do pé se sobressaia. A deformação provocava um grande sofrimento às mulheres durante toda a vida. Dizia um dito popular: "um par de pés pequenos, um grande vaso de lágrimas".
Após a fundação da Nova China, o governo chinês proibiu o hábito e as mulheres passaram a gozar da igualdade com os homens, passando a desempenhar "o papel da metade do céu".
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