A China vai abrir o mercado de produções para programas de entretenimento televisivos para os investidores e produtores estrangeiros. O fato está atraindo a atenção das multinacionais do setor e abre espaço para mais um período de modernização da TV chinesa. Para esclarecer melhor o fato, o Departamento de Português da Rádio Internacional da China (Cri, em sua sigla em Inglês) entrevistou Zhu Hong, diretor Jurídico da Administração Estatal de Televisão, Rádio e Cinema da China.
Para Zhu, a abertura do setor - válida a partir do dia 28 de novembro -era inevitável e veio para ficar. "A abertura nasceu da crescente pressão imposta pelo público chinês. A maioria de nossos telespectadores anseia por novidades no formato de nossos programas de entretenimento".
O pacote de oportunidades oferecido pelo dragão asiático aos investidores e produtores estrangeiros é tentador. As transmissões da TV chinesa alcançam 360 milhões de famílias em todo o território continental, excetuando-se as regiões especiais administrativas de Hong Kong e Macau. O mercado movimentou cerca de US$ 9,5 bilhões no ano passado, incluindo os 100 milhões de assinantes da TV a cabo. "Cobrimos 94% das famílias chinesas e temos sólidos investimentos destinados ao atendimento de sete províncias no Oeste da China. Com isso esperamos, em curto prazo, alcançarmos 100% de nossa população. Além disso, nosso volume de negócios conheceu uma expansão de quase 40% neste ano", diz Zhu.
O diretor da poderosa Administração Estatal de Televisão, Rádio e Cinema da China afirma que a Disney, a Viacom e a Warner podem se transformar nas primeiras multinacionais dos meios de comunicação a formarem uma série de joint-ventures com empresas chinesas. "Elas poderão deter até 49% das ações das novas companhias. Além dos investimentos, nos interessamos profundamente em apreender as avançadas técnicas e experiências acumuladas por estas gigantescas multinacionais. Mas, qualquer outra produtora mundial, desde que preencha todos os requisitos necessários, poderá atuar em nosso mercado".
Segundo o novo regulamento, as multinacionais ligadas à área do entretenimento televisivo interessadas em explorar o mercado chinês devem registrar um capital mínimo de US$ 700 mil e se associarem às empresas nacionais credenciadas pelo governo. "Acreditamos muito nesta fórmula. Ela agrega benefícios recíprocos diante de interesses mútuos. Mas, esperamos, sobretudo, que o público chinês fique satisfeito com os futuros formatos concedidos aos programas de entretenimento".
Telejornalismo
Zhu afirmou à nossa reportagem que os chineses se interessam muito pelo cotidiano regional, nacional e mundial e que pode haver a transferência de tecnologias e de conceitos ao telejornalismo chinês. "Um grande exemplo disso foi o inesperado aumento de 40 milhões de yuans em nossas receitas durante a cobertura que realizamos da guerra ao Iraque no ano passado. Por isso, podemos assimilar novas experiências na área".
Na área do jornalismo, Zhu também falou sobre o sucesso de audiência alcançado pelo programa de entrevistas e de reportagens que denunciam os casos de corrupção na China."O Jiao Dian Fang Tan (Em foco) alcança expressivos índices de audiência. No geral, ele aborda casos de corrupção, abusos de autoridade, desperdícios públicos e os problemas sociais existentes nas localidades mais remotas do país. Em muitos sentidos, ele vem democratizando a TV chinesa".
TV digital
Durante a entrevista, Zhu abordou o desenvolvimento da TV digital na China. "Atualmente, 49 cidades chinesas estão recebendo transmissões digitalizadas, entre elas Qingdao, um dos principais centros econômicos do País. Pretendemos utilizar metade do sistema durante a transmissão dos Jogos Olímpicos de Beijing em 2008 e fecharmos nossa rede nacional até 2015".
Oportunidades para os brasileiros
Zhu pertence à legião de telespectadores chineses que assistiram à telenovela Escrava Isaura, produzida pela TV Globo nos anos 70. "Foi uma telenovela de impressionante sucesso na China. Gosto muito da Lucélia Santos e torço pela continuidade do sucesso em sua carreira".
Sobre as possibilidades das emissoras de televisão ou produtoras independentes brasileiras conquistarem uma fatia do mercado que se abre, Zhu foi taxativo. "Produzimos mais de 10 mil capítulos de telenovelas no ano passado. No entanto, estamos dispostos a adquirir boas produções na área do entretenimento provenientes de qualquer país do mundo, inclusive do Brasil".
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