A Festa da Água é um dia festivo dos dai, em que todos se lançam água mutuamente, com grande alegria. Esta festa tem uma longa história, e cada ano, começa mais ou menos de dias após o dia Qingming---Claridade e Pureza---do calendário lunar da China, ou seja, entre junho e julho segundo o calendário dos dai.
Quanto a esta festa, há uma lenda popular que se conta:
Em tempos remotos, havia um rei-demónio, cruel, que matava a seu bel-prazer os homens e fazia o que queria, ocupando uma quarta parte do mundo. Tinha poderes mágicos, este rei, pois não se afogava nem o fogo o queimava, e facas e flecha não o feriam. Saqueava oiro e prata, tinha escravos e escravas bonitas, e ninguém se atrevia a fazer-lhe frente. Tinha seis mulheres, mas não satisfeito, conseguiu mais outra, muito bonita, que tomou como sua favorita.
Uma noite, a moça disse ao rei ao vê-lo muito alegre:
"Ouvi dizer que Vossa Excelência não tem medo da água, do fogo, nem de facas e flechas. Então, Vossa Senhoria pode viver para sempre, não é?"
"Talvez! É que tenho também um ponto fraco!" confiou-lhe o rei-demónio.
"Que teme ainda, com tantos talentos?" tornou a sétima mulher.
"Isso é segredo, mas, digo-o só a ti e a mais ninguém! Temo que me atem o pescoço com um fio do meu cabelo", disse ele em voz baixa.
"É verdade? Vossa Excelência, que não teme mesmo o céu nem a terra, como pode ter medo dum fio de cabelo?!" perguntou a moça.
"É que o fio de cabelo pode matar-me," murmurou o rei-demónico.
Ao ouvi-lo, a moça pensou que, se era verdade o que dizia o monstro, já tinha maneira de matá-lo para libertar as gentes da sua crueldade. E assim, quando ele adormeceu, a moça tirou-lhe um fio de cabelo e atou-o ao seu pescoço. Imediatamente, a cabeça do demónio caiu! A moça ficou muito contente.
Mas, uma vez caída no chão, a cabeça, de repente, pegou fogo e das chamas saltaram muitos diabos. A moça gritou surpreendida, e as outras seis mulheres, acordadas pelo seu grito, vieram ver o que passava. Uma delas encheu-se de coragem e levantou a cabeça do demónio, e estranhamente, apagou-se o fogo. Ao ver isso, elas não se atreveram mais a deixar a cabeça. E à vez, cada uma carregava-a, durante um ano. Mas, como a cabeça ainda "vivia", saía dela sangue, de vez em quando; ao terminar um ano, no dia em que a cabeça passava de mão, todos lançavam água à mulher que tinha carregado a cabeça do demónio durante um ano, ela morreu definitivamente. Desde então, cada ano, neste dia os dai lançam-se água mutuamente, e pouco a pouco, a Festa da Água entrou nos hábitos dos dai, que se lavam do mal do ano velho, para começar o novo ano.
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